Jurandir Dias
A eutanásia é, a seu modo, uma consequência do
aborto. O aborto trouxe um enfraquecimento da família e é praticado pelas
mesmas razões, ou seja, o casal não quer ter filhos para poder gozar mais a
vida, divertir-se livremente, ir à praia etc. sem ter o trabalho de cuidar de
crianças.
Morreu na Bélgica a primeira criança por eutanásia.
A notícia não poderia ser mais estarrecedora. A informação foi prestada pelo
presidente da Comissão Federal para a Eutanásia, Wim Distelmans.[i]
Em 2014, o Parlamento Socialista da Bélgica aprovou
uma lei iníqua que permite que os médicos pratiquem a eutanásia – eufemismo
para não dizer assassinar – em crianças com doenças ditas incuráveis e que
causam muito sofrimento. A lei permite que os menores procurem a eutanásia. Mas
as crianças que serão sacrificadas teriam que «possuir a capacidade de
discernimento». Que criança, nos tormentos das dores, será capaz de discernir
se quererá ou não ser morta?
A eutanásia existe na Bélgica desde 2002, quando o
governo socialista daquele país a aprovou para os anciãos.
O número de mortes por eutanásia na Bélgica está a
subir rapidamente, com um aumento de 25% em 2012. Estudos recentes indicam que
até 47% de todas as mortes assistidas não foram descritas; 32% de todas as
mortes assistidas foram feitas sem pedido e os enfermeiros estão a matar
os seus doentes sem o conhecimento dos médicos.[ii]
Alguns especialistas belgas estão a apoiar a
extensão da eutanásia para crianças com deficiência, porque dizem que isso já
está a ser feito. Os mesmos médicos especialistas sugerem que a extensão da
eutanásia vai resultar num aumento de 10 a 100 mortes por ano.
Tudo isto causa uma enorme insegurança entre as
pessoas. Na Holanda, um dos primeiros países a aprovar a eutanásia, os idosos
cruzam a fronteira e vão tratar-se na Alemanha onde a lei da eutanásia não é
tão radical. Agora, também a criança doente se sentirá gravemente ameaçada. E
pensará se a sua existência não será um peso para a família e que os seus pais,
mediante conselho pernicioso de um médico, não venham a terminar com a sua
vida.
*
* *
A eutanásia é, a seu modo, uma consequência do
aborto. O aborto trouxe um enfraquecimento da família e é praticado pelas
mesmas razões, ou seja, o casal não quer ter filhos para poder gozar mais a
vida, divertir-se livremente, ir à praia etc. sem ter o trabalho de cuidar de
crianças.
A criança executada pela eutanásia «alivia» a
família de gastos com hospitais e do trabalho de acompanhamento familiar
naquele momento crucial. Por isso se mata o filho ou a filha e depois
vai divertir-se.
Como isto é diferente daquela mãe ou pai que passam
noites sem dormir, rezando pela recuperação da saúde do seu filho ou filha, ao
lado do seu leito de dor, consolando-a, dando forças para suportar os
sofrimentos!
Os outros filhos olharão para os pais e dirão: como
os meus pais são maravilhosos, como eles são dedicados. A minha mãe é uma
heroína, acompanhou o meu irmãozinho até o fim. Que exemplo!
É neste momento de sofrimento que a família se une
melhor; há maior solidariedade entre as pessoas.
Contudo, não são assim os pais que matam os seus
filhos. Eles procuram principalmente o prazer, o gozo da vida. Procuram
eliminar qualquer forma de sofrimento. Eles são o fruto de uma sociedade descristianizada.
Para eles não importa o quinto mandamento que diz «não matarás», assim
como os demais.
Prevendo a eutanásia para crianças, em 1936…
Na coluna «7 dias em revista» do Legionário,
n.º 212, de 4 de Outubro de 1936, Plinio
Corrêa de Oliveira comentava um facto então pioneiro: em Perth
(Austrália) um pai matou o próprio filho por motivos de saúde.
Transcrevemos a seguir o texto na íntegra:
«Pela primeira vez, desde que o mundo se governa
pelos princípios da civilização de Jesus Cristo, um pai mata o seu filho por
motivos de saúde.
Trata-se do Sr. Sullivan, de Perth, na Austrália,
que levou a passear o seu filho de três anos matando-o inesperadamente com um
tiro. O próprio infanticida conduziu depois o pequeno cadáver à
polícia, e declarou que a razão do crime que praticara era que o seu menino
sofria de doença incurável.
Não era lícito a esse pai
desnaturado, matar o seu filho, qualquer que fosse o pretexto por ele invocado. Mas façamos abstração disto, e consideremos a questão sobre outro
aspecto. O Sr. Sullivan é «chauffeur», portanto pessoa relativamente desprovida
de recursos. Será tão seguro que autorize o infanticídio o diagnóstico
do médico de 2.ª classe, a quem provavelmente o Sr. Sullivan consultou? Será
realmente incurável essa moléstia? Com os progressos que a medicina vem
fazendo, não é bem possível que, daqui a alguns anos, o menino pudesse ser
curado?
Em nada disto refletiu o Sr. Sullivan.
* * *
O Sr. Sullivan, em si, não interessa. A sua
atitude vale apenas como sintoma de uma civilização.
A tal ponto o mundo
descristianizado está perdendo o senso da caridade, que diversos escritores
europeus já sustentam a inutilidade e, mais do que isso, a nocividade dos
estabelecimentos de assistência à doença na infância.
Se a criança doente é um ser inferior, por que
razão há-de o Estado sobrecarregar-se com a sua educação? Não seria melhor
deixar morrer esses galhos quase secos, para que a seiva afluísse mais
abundante, para os galhos sãos?
Se algum dia esse pensamento conquistar o mundo, os
casos como o do Sr. Sullivan serão numerosíssimos.»
Nesse dia, a Igreja certamente
já terá voltado para as catacumbas. E, no Brasil, as pessoas do povo matarão os
seus filhos, nunca a conselho médico, mas por indicação de (satanistas)…»
[i] https://br.sputniknews.com/sociedade/20160917/6344864/eutanasia-crianca-belgica.html – acessado em 20 de Setembro de 2016.
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