Fernando Castro, entrevistado no Diabo por João Filipe
Pereira
«Barrigas de aluguer só interessam à esquerda
caviar»
Em Portugal há 5 mil
famílias com três ou mais filhos registadas na Associação Portuguesa de
Famílias Numerosas. Fernando Ribeiro e Castro é o seu presidente. Em entrevista
a O DIABO, o homem que defende os interesses das famílias grandes é fulminante
no ataque que faz à «Esquerda caviar», às políticas do Governo e aos «totós» do CDS, PSD e PS.
O Diabo -- Recentemente
voltou-se a falar da necessidade de rever a lei do aborto e há mesmo quem
defenda a necessidade de um novo referendo. Enquanto presidente da Associação
Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN), considera urgente essa alteração?
Fernando Ribeiro e
Castro -- Nós estamos e sempre estivemos contra o aborto. O aborto mais não é
que o matar de um bebe e nós somos a favor da vida. Este é, sem dúvida, o
cúmulo da violência doméstica, o matar de um filho no lugar mais seguro que a
Natureza criou: a barriga da mãe. Portanto, o que está errado não são as
políticas ou os políticos. O que está mal são as leis que permitem tal acção.
Porque, quando a vida humana passa a ter um valor relativo, todo o sistema
gerativo cai por terra. É nossa missão, enquanto adultos responsáveis, defender
os mais fracos. E os mais fracos na sociedade são os idosos e as crianças. E
fácil de concluir que esta é uma lei iníqua. Uma lei que nasce de um referendo
onde se descriminaliza o aborto e não a mulher. Uma lei que resulta hoje em
situações absurdas como a do Estado, através dos contribuintes, oferecer, além
do aborto em si, a viagem até ao Hospital à mulher que o vai fazer. Pior: até
oferece o subsidio de maternidade. Tudo isto numa época em que o Estado não está
a assegurar os cuidados básicos aos portugueses -- que estão a pagar cada vez
mais taxas moderadoras.
Considera igualmente absurdo o debate social so¬bre as
barrigas de aluguer?
Mas que debate
social? Não há debate social. Houve sim uns meninos do Bloco de Esquerda mais
uns meninos da Juventude Socialista e uns «totós» do PSD e CDS que
foram atrás. Estes últimos tiveram a dignidade de depois recuarem. A sociedade
está preocupada com os problemas do dia-a-dia, está preocupada em sobreviver...
Não quer saber disto para nada. Os únicos interessados são os elementos de uma
"Esquerda caviar". O facto de haver meninos no Bloco que não estão
aflitos, ao contrário dos restantes portugueses, não significa que percam o
tempo a pensar em disparates. Que vão jogar às cartas ou que se dediquem à
pesca. E por favor, o PSD e o PS que não vão atrás da «Esquerda
caviar» de cada vez que eles se lembram destas parvoíces.
As famílias portuguesas continuam a preferir comprar um
carro a ter um filho?
Isso era antes. O
paradigma alterou-se com esta situação financeira e econômica - da qual
Portugal é uma grande vítima. Os políticos andam distraídos e não estão a tomar
as políticas correctas. Estamos a registar uma redução da população activa, o
que resulta numa quebra do consumo, que por sua vez tem consequências no número
de desempregados, que por sua vez acelera a crise... Vamos esperar que as suas
políticas olhem mais para o País. O Estado Social foi inventado com a ideia que
uma geração cria uma geração com mais habitantes. O que permitiria pagar a sua
dívida. O irónico é que a geração que inventou o Estado Social deu um tiro no
pé ao criar uma geração mais pequena. O Estado Social foi á vida.
A APFN, neste cenário, tem tentado sensibilizar a classe
política para os problemas da família?
O objectivo da APFN
é reunir as famílias na luta contra este Estado e as suas políticas
anti-natalistas. Este Governo que agora tomou posse está a ser pior que o de
José Sócrates. Como é possível não terem em atenção a dimensão da família no
calculo dos diversos impostos? Estão a penalizar as famílias que contribuem
para a renovação de gerações. Os municípios ainda são o garante de uma politica
a pensar nas famílias, pois necessitam de travar a desertificação e o abandono
dos concelhos.
Ao Governo só
pedimos justiça e equidade. Há anos que alertámos o Governo e o Parla-mento
para a aldrabice dos nú¬meros que estavam a ser torna¬dos públicos. Guterres
garantiu, no seu tempo, que a Segurança Social estava garantida. Há dois anos,
Sócrates garantiu o mesmo...
A verdade é que está
novamente em causa a Segurança Social e o próprio País. Perdemos 1 milhão e 200
mil crianças e jovens nos últimos anos. Actualmente existem cerca de 40 mil
professores sem colocação. Faça as contas, se não tivéssemos perdido população
teríamos emprego para dar aos professores.
Veja o caso das
maternidades. Se não há nascimentos, para quê maternidades abertas em que temos
excelentes profissionais sem um único parto para fazer? Qualquer dia o Governo
terá que se decidir no que respeita à Guarda, Covilhã e Castelo Branco - todas
estas cidades ainda têm maternidades abertas.
Já reuniram com o Governo?
Sempre que há
mudança de Governo nós pedimos audiências. Já fomos ouvidos pelo CDS, pelo PSD
e pelo PS. Pedimos audiência ao primeiro-ministro, ao ministro das Finanças, ao
ministro da Educação, ao ministro da Saúde e ao ministro da Solidariedade
Social. Apenas conseguimos uma reunião com o secretario de Estado dos Assuntos
Fiscais e dessa reunião não saiu nada.
As famílias numerosas,
na sua maioria, não são ricas nem pobres, mas como é que é pos-sível sobreviver
quando vemos o preço da electricidade a subir para os 23 por cento de IVA,
quando a electricidade é um bem de primeira necessidade. Bem, da conta da EDP
apenas um terço é para a electricidade. O restante prende-se com Custos de
Interesse Económico Geral, seja isso o que for.
Não compreendemos as políticas deste Governo.