Pedro Afonso
Recentemente ficámos surpreendidos com um encontro
de centenas de jovens no Centro Comercial Vasco da Gama, em Lisboa, convocado
através do facebook e que terminou com cinco agentes e um
jovem de 15 anos feridos, e com dois jovens acusados de resistência e coacção à
autoridade.
A abordagem de qualquer fenómeno desta natureza é
sempre parcial e incompleta, pois cada um destes jovens mobilizados para estas
acções através do facebook tem um percurso de vida único. Além
disso, é provável que nestes grupos haja vários jovens «normais» e bem
adaptados. Mas afinal o que pode explicar alguns comportamentos anti-sociais? O
que pensam estes jovens? O que sentem? Quais são as suas expectativas sobre a
vida?
Quando na infância e na adolescência não se reúnem
um conjunto de condições para um normal desenvolvimento psíquico existem sempre
consequências. A personalidade é habitualmente afectada, transformando-se nalguns
casos numa personalidade doente e perturbada. Neste contexto, estes jovens têm
grandes dificuldades de adaptação à sociedade, as relações interpessoais são
problemáticas, têm reduzida tolerância à frustração, o que juntamente com a
pressão do grupo e alguma impulsividade pode explicar (mas não justifica)
alguns comportamentos anti-sociais observados.
O que pensam estes jovens? Uma grande parte destes
jovens pensam essencialmente num assunto: o presente. A satisfação dos desejos
imediatos, encontra-se muito ligada à cultura consumista e hedonista. A
preocupação está muitas vezes em obter o último gadget ou a
roupa da moda. Mas não existe propriamente um comportamento desviante nisto,
pois todos nós somos um pouco assim. O problema reside na incapacidade
que muitos destes jovens têm em planear o futuro e adiar a gratificação.
Esforçar-se hoje para ser recompensado amanhã. Esta é uma característica
fundamental para se transitar de uma personalidade imatura para uma
personalidade matura. Infelizmente, muitos não são
ajudados, nem motivados, para adquirirem esta importante competência social.
O que sentem estes jovens? Por experiência
profissional posso afirmar que muitos destes jovens sentem falta de amor, pois
têm graves carências afectivas. Dentro de si próprios persiste um enorme
sentimento de revolta e rancor. Por vezes mistura-se ainda um sentimento
crónico de vazio interior. Assim, basta um pequeno rastilho para surgir a
agressividade e a violência. Mas o problema também tem outra dimensão. A nossa
sociedade tem promovido nos últimos anos, junto dos jovens, uma cultura
afectiva epidérmica, superficial, onde tudo é sexualizado e erotizado. Por esse
motivo, nota-se um autêntico analfabetismo emocional, bem visível pelo facto de
actualmente muitos jovens não disporem sequer de um vocabulário diversificado
para expressarem as suas emoções. Tudo se resume ao «gosto», «não gosto»,
«desejo-te», «já não significas nada para mim». Para os mais desatentos,
bastará assistir a alguns reality shows para se comprovar este
fenómeno que não é mais do que a promoção da estupidificação afectiva da
sociedade.
Uma boa adaptação social obriga a que possamos
compreender os nossos sentimentos. As nossas emoções também se pensam e isso é
essencial para o autocontrolo, tão útil na nossa vida. Sem autocontrolo não
somos verdadeiramente pessoas livres, já que ficamos escravos das nossas
emoções. É nesta base que assenta o conceito de inteligência emocional e que
pode ser desenvolvido em qualquer um de nós.