quinta-feira, 11 de setembro de 2014


Apelo a todos aqueles que querem preservar

o património histórico


Preservação do jardim da Praça do Império

A Câmara Municipal de Lisboa, na pessoa do Senhor Vereador Sá Fernandes, resolveu eliminar os brasões relativos às ex-províncias ultramarinas, desenhados nos buxos do jardim em frente ao Mosteiro dos Jerónimos, na Praça do Império, alegando que estão «ultrapassados» e que «não faz sentido mantê-los», pois são representativos do Ultramar e do colonialismo.


Porém, aquele espaço, que foi projectado pelo arquitecto português Vasco Lacerda Marques, integrado na praça do Império, desenhada pelo afamado arquitecto luso Cortinelli Telmo (1897-1948) para a Exposição do Mundo Português, em 1940, é um marco histórico, um património, uma memória e um símbolo da História e da Cultura de Portugal.

Não se pode politizar nem mudar a História. Ao retirar os brasões, estarão a descaracterizar um dos espaços mais visitados de Lisboa, que pertence ao povo português e, em particular, aos munícipes da cidade.

Sá Fernandes, a visão do mundo do Bloco de Esquerda.
Esta acção é um ultraje à memória de um povo e uma tentativa de despojar as gerações vindouras da herança histórica e cultural portuguesa, um legado que temos o dever de preservar, não de apagar, como se nunca tivesse existido.

Assine, por favor, para mostrar que é contra a eliminação desses brasões e que estão neste espaço desde 1940, como parte integrante do jardim.

http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT74604





segunda-feira, 8 de setembro de 2014


E nem um obrigadinho


Inês Teotónio Pereira

Antes de sermos pais não sabemos que é assim. Ninguém nos diz a quantidade de sofrimento que vamos acumular com cada um dos nossos filhos

Um dos maiores problemas dos pais em geral é o problema do sofrimento. Nós sofremos muito e muito mais do que a maior parte das pessoas. É um facto e uma evidência contabilística: nós, pais, sofremos com os nossos problemas e, em dose muito maior, com os problemas dos nossos filhos e com os problemas que eles nos causam. Sofremos pelo menos o dobro, portanto. Nós sofremos muito quando eles sofrem, sofremos quando eles arranjam chatices, quando fazem asneiras, quando nos fazem chantagens emocionais, quando não nos deixam dormir, quando não nos deixam ler o jornal ou um livro há dez dias, quando nos partem o telemóvel ou entornam a nossa carteira na retrete, quando nos espetam o joelho nas costas quando vão dormir para a nossa cama ou quando esvaziam a nossa conta bancária. Ser pai magoa, é um facto. Não, não é tudo como o anúncio da Chicco, nem os filhos trazem só felicidade. Nada disso. Os filhos trazem uma grande dose de sofrimento e angústia e, claro, na mesma medida, felicidade, etc. Mas como em tudo na vida, há sempre a parte do passivo. E é desse passivo que nunca se está à espera e de que não se fala.

Antes de sermos pais não sabemos que é assim. Ninguém nos diz a quantidade de sofrimento que vamos acumular com cada um dos nossos filhos. Até porque ninguém quer saber disso. O nosso sofrimento e bem-estar deixam de ter importância no minuto em que temos um filho, tanto para nós como para os outros. As perguntas e as preocupações são automaticamente dirigidas ao recém-nascido e tudo o resto existe em sua função. E será assim a vida toda. Ser pai ou mãe é estar a vida toda ao serviço dos nossos filhos. Deixamos de ser a pessoa mais importante das nossas vidas e a nossa felicidade fica absolutamente dependente do bem-estar ou da felicidade dos nossos filhos. Deixamos, por isso, de ser autónomos para sempre e de ter descanso.


Mas tudo bem. Acabamos por nos adaptar a este estado de coisas e a vivermos bem com isto. Sem mágoa. Apenas cansados, envelhecidos e preocupados. Nada de especial. O pior, no entanto, é o silêncio. O facto de não nos podermos queixar não mata mas mói. E aos pais não é permitido queixumes. A lógica que elimina qualquer possibilidade de nos queixarmos das amarguras da paternidade é simples: ninguém nos pediu para sermos pais e os nossos filhos não pediram para nascer. Foi um acto voluntário e, como voluntário que é, agora aguenta-te e de cara alegre. Não há cá espaço para mariquices. O que importa são os filhos. Esta cruel lógica da batata deixa-nos absolutamente sozinhos no sofrimento. Quando passamos uma noite em claro porque a criança não nos deixa dormir, as pessoas com quem comentamos a nossa noite mal dormida perguntam pelo coitadinho do bebé, que deve ter sofrido muito com os dentes a crescer, e não pelas nossas olheiras. Ninguém quer saber das nossas olheiras: quiseste ter filhos, não foi? Agora não te queixes. Mas nós, pais, queremos poder queixar-nos sem sentir remorsos por isso. Queremos poder dizer que eles são insuportáveis, que estamos fartos de não dormir, que estamos preocupados, estafados, inseguros, etc., etc., sem que do outro lado nos venham dizer que a culpa do nosso sofrimento é nossa, apenas nossa. E que não temos o direito ao queixume porque é uma enorme sorte termos filhos que, lá está, não pediram para nascer. Ora, nós queremos queixar-nos porque sim, sem que tenhamos de levar com julgamentos morais do lado de lá. E isso é impossível. Tirando os psicólogos e os nossos próprios pais, ninguém nos ouve. Apenas nos julgam pela ingratidão da nossa amargura. Não, ter filhos não é só um mar de rosas. É a melhor coisa que o mundo nos pode dar, é certo, mas como tudo na vida tem o seu custo. E é desse custo que nos queremos queixar sem termos de pagar para que alguém nos oiça. É um direito cívico que nos assiste, tão ou mais legítimo que o direito à manifestação. Sim, eles não pediram para nascer, mas também é verdade que os anúncios com bebés são uma espécie de publicidade enganosa: eles choram aos gritos quando têm a fralda suja, não se ficam a rir todos rosadinhos, e muitas vezes atiram o prato da comida para o chão ou para cima de nós quando estão a comer papa. É preciso que o mundo saiba isto. Eles não pediram para nascer, é certo, mas caramba, foi uma sorte terem nascido. E nem um obrigadinho?