sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Não são os portugueses
que têm de escrever e falar «brasileiro».


Este (des)acordo não pode nem deve ser implementado,
 
A BEM DA «LÍNGUA DE CAMÕES». 

Já não é só o Centro Cultural de Belém, instituição de direito privado, sem tutela pública. Ou Serralves. Ou a Casa da Música.Já não são só a generalidade dos jornais que o ignoram: Correio da Manhã, Jornal de Notícias, Público, i, Diário Económico e Jornal de Negócios, além da revista Sábado.

Já não só os angolanos que se demarcam, ou os moçambicanos. Ou até os macaenses. Sem excluir os próprios brasileiros.
 
Por cá também já se perdeu de vez o respeitinho pelo Acordo Ortográfico. Todos os dias surge a confirmação de que não existe o consenso social mínimo em torno deste assunto.
 
São os principais colunistas e opinadores da imprensa portuguesa. Pessoas como Anselmo Borges, António-Pedro Vasconcelos, Baptista-Bastos, Frei Bento Domingues, Eduardo Dâmaso, Helena Garrido, Inês Pedrosa, Jaime Nogueira Pinto, João Miguel Tavares, João Paulo Guerra, João Pereira Coutinho, Joel Neto, José Cutileiro, José Pacheco Pereira, Luís Filipe Borges, Manuel António Pina, Manuel S. Fonseca, Maria Filomena Mónica, Miguel Esteves Cardoso, Miguel Sousa Tavares, Nuno Rogeiro, Pedro Lomba, Pedro Mexia, Pedro Santos Guerreiro, Ricardo Araújo Pereira, Vasco Pulido Valente e Vicente Jorge Silva.
 
É o ex-líder socialista, Francisco Assis, que se pronuncia sem complexos contra este «notório empobrecimento da língua portuguesa».
 
É o encenador Ricardo Pais, sem papas na língua.
 
É José Gil, um dos mais prestigiados pensadores portugueses, a classificá-lo, com toda a propriedade, de «néscio e grosseiro».
 
É a Faculdade de Letras de Lisboa que recusa igualmente impor o acordo. Que só gera desacordo.
 
Um acordo que pretende fixar norma contra a etimologia, ao contrário do que sucede com a esmagadora maioria das línguas cultas. Um acordo que pretende unificar a ortografia, tornando-a afinal ainda mais díspar e confusa. Um acordo que pretende congregar mas que só divide. Um acordo que está condenado a tornar-se letra morta, no todo ou em parte. Depende apenas de cada um de nós.
 
Passe para todos os seus contactos
 
É preciso evitarmos ser destruídos por intelectualóides ignorantes e arrogantes que procuram a celebridade com palhaçadas à custa daquilo que Portugal tem de melhor. E os políticos com medo de os chamarem ignorantes (que são) alinham com qualquer fantasia que seja apresentada com ares de inteligência. COITADOS!!!
 

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Qual é o preço da dignidade humana?

Cardeal Odilo Pedro Scherer Arcebispo de São Paulo, Brasil

Eu teria preferido escrever sobre outro assunto esta semana, mas o leilão da virgindade de uma jovem brasileira, amplamente divulgado pela imprensa, requer uma reflexão. É um facto chocante e, ao mesmo tempo, parece tão banal que só chamou a atenção porque o leilão aconteceu de maneira aberta, pela internet, e porque o valor da licitação foi alto. (...)
 
Afinal, o que está acontecendo? As pessoas colocam livremente a sua própria dignidade em leilão em troca de dinheiro? O facto foi acompanhado com curiosidade mórbida e até com claque, para ver até onde a oferta chegaria. Chocar, porquê? Nas calçadas de certas ruas da cidade e em tantas «casas de amor», não acontece o mesmo todos os dias, sem que isso chame a atenção, ou cause consternação em ninguém? Há mesmo quem queira legalizar a prostituição, como se fosse uma profissão. Tudo se resolve ao nível económico, como traficar pessoas, reduzi-las a escravas, vender bebés, comercializar órgãos humanos...
 
Há quem compre ou venda votos nas eleições, comprando ou vendendo a própria dignidade; suborne a justiça, pondo em liquidação a própria consciência; compre armas, para usar contra os outros, faça violência, mate, tudo pela vantagem económica. Há quem trafique drogas, lucrando com o comércio da morte; e quem vai roubando o que é dos outros ou de todos: tudo pela vantagem económica que está em jogo...
 
Grande novidade nisto tudo não há; coisas que sempre aconteceram. O novo é que, sem nos darmos conta, estamos a assimilar uma cultura do mercado, na qual o factor económico passou a ser o maior referencial: de uma cultura de valores éticos e morais, para uma cultura de valor económico; o bem maior parece ser a vantagem económica, que tudo permite e legitima, amolecendo qualquer resistência do senso moral. Tudo fica justificado se há vantagem económica. Onde vamos parar?
 
Está na hora de colocar tudo isto em discussão novamente; será que essa tendência cultural vai levar a um aprimoramento das relações humanas? A uma dignidade maior no convívio social? A uma valorização real das pessoas, ao respeito pela justiça e a paz? Provavelmente não. Certamente não. O ser humano, avaliado sobretudo na óptica da razão económica, deixa de ser pessoa e torna-se objecto quantificável.
 
Nisto também não há grande novidade; no passado houve a exploração dos escravos, dos operários, das mulheres. Mas, sob protesto. O preocupante, agora, é que essa maneira de ver e fazer, passe por aceitável e normal e a própria pessoa «objectivada», outrora considerada vítima, agora seja vista como um sujeito autónomo e livre, que faz o que quer, com a sua dignidade; e tudo vai bem assim...
 
Voltaremos às feiras em que se vendem escravos? Livremente expostos à venda, aliás, ao leilão? O leilão da virgindade, por internet, é um facto que deve preocupar educadores, juristas, filósofos... Da curiosidade mórbida, é preciso passar à reflexão, talvez com um pouco mais de vergonha diante do que está acontecendo. A nossa dignidade comum está sendo leiloada! É deprimente!