Manuel
Pinto Coelho
«Não há nada mais terrível que a ignorância activa» Goethe
Continua a ler-se com inusitada frequência na imprensa nacional declarações de
pessoas que, embora habitualmente responsáveis, desde há muito, de forma mais
ou menos declarada, se vêm batendo pela legalização da marijuana.
A bem da verdade e da saúde mental do leitor, esclarece-se:
Mito 1 - A marijuana fumada pode ter um aproveitamento médico.
Verdade - Pela impossibilidade de controlar a dose, os ingredientes e a
potência, o fumo nunca poderá ser um modo seguro de administrar uma droga.
Entre os seus 483 compostos químicos, o THC é fortemente psicoactivo, a sua
potência não pára de aumentar - no espaço de 40 anos, passou de 1% para 35% -
sendo que as concentrações desconhecidas deste composto químico tornam
impossível a criação de uma dose uniforme com aplicação médica. Acresce ainda
que a já há muito suspeitada ligação entre cannabis e a esquizofrenia
vem sido repetidamente confirmada por estudos recentes, de tal forma que hoje
ela é comparada com a conhecida ligação ao cancro do fumador de tabaco. Além de
inquestionáveis danos no cérebro e aparelhos respiratório e reprodutor, estudos
também recentes têm vindo a comprovar, no seio dos seus utilizadores, descidas
do QI que podem ir até aos oito pontos.
Mito 2 - A legalização da marijuana iria diminuir o crime relacionado.
As prisões estão superpovoadas de indivíduos acusados da sua posse, obrigando
os Governos a gastar milhões pelas custas legais da sua detenção.
Verdade - A legalização da marijuana, com a consequente descida da
percepção de risco, do preço, bem como o aumento da sua disponibilidade, faria
dos jovens um alvo e um potencial mercado muito maior para os dealers.
Nos EUA, de todos os detidos por problemas de droga, só 1,6% foram sentenciados
unicamente por posse, sendo a quantidade média apreendida de 52 quilos, ou
seja, muito mais do que a necessária para uso pessoal. Passa pela cabeça de
alguém que a melhor forma de prevenir o crime e o consequente
castigo/sobrelotação das prisões ocupadas com os seus prevaricadores, seja
também a de legalizar a fraude, o roubo, o assassínio, o incesto, o estupro, a
violação, a pedofilia, a violência doméstica, o tráfico humano ou o fogo posto?
Mito 3 - Taxar a marijuana como o álcool e o tabaco traduzir-se-ia num
encaixe de milhares de euros que poderiam ser aplicados em serviços vitais,
tais como nas escolas.
Verdade - O tabaco e o álcool são precisamente os maiores indicadores da razão
por que legalizar a marijuana seria devastador em termos económicos e de
sofrimento humano. Quem advoga a ideia esquece-se de mencionar que o dinheiro
dos impostos cobrados ao tabaco e ao álcool cobrem menos de 15% dos custos
económicos devidos ao uso destas substâncias, que incluem cuidados de saúde,
perda de produtividade, custos com a justiça, acidentes de viação e absentismo,
para nomear só alguns. Assim é razoável concluir que, no mínimo, os custos da
legalização da marijuana iriam reproduzir em espelho os do tabaco e
álcool.
É voz corrente que é impossível erradicar as drogas da sociedade; uma guerra
perdida, diz-se. É nossa opinião que, embora seja impossível acabar com ela,
qualquer sociedade consciente, com um mínimo de consciência ética, deverá
caminhar no sentido da sua erradicação. O seu objectivo deverá ser sempre o de
limitar o número de pessoas envolvidas e o correspondente impacto negativo. Do
mesmo modo, o facto de ainda não se ter descoberto a cura do cancro não quer
dizer que se deva deixar de a tentar. O mesmo raciocínio em relação a flagelos
como a fome e a pobreza. Não passa pela cabeça de ninguém desistir de os combater
pelo facto de os resultados estarem sempre muito aquém dos desejados.