Para alguns pode ser a
coisa mais básica, mas a realidade é esta: muitas pessoas, mesmo com carta de
condução há muito tempo, têm dificuldades no momento de estacionar o carro.
A pensar nisso, publicamos
este vídeo com truques muito úteis que certamente vai ajudar quem não domina a
técnica. Por favor partilhe com os amigos!
http://www.tabonito.pt/como-se-faz-um-estacionamento-perfeito
Inês Teotónio Pereira, Jornal i, 10 de Fevereiro de 2016
Por mim, eu parava de
elogiar a criançada. E se eles fossem inteligentes nunca, jamais, lhes
revelaria tal descoberta. Escondia a informação e até pedia a ajuda da Comissão
Nacional de Protecção de Dados para garantir o sigilo
Quando os professores dos meus filhos escrevem nas avaliações que eles
são muito inteligentes, levo as mãos à cabeça. Ao princípio, quando era mais
novinha e menos experiente nesta lide maternal, ficava toda orgulhosa: «Ah, que
maravilha, este meu rico menino é tão inteligente. Aprende tudo à primeira. Já
o estou a ver a ganhar o Nobel.» Foi assim durante anos. O facto de os
professores reconhecerem a inteligência da minha criançada era um consolo e,
achava eu, o quanto baste. Depois cresci. Cresci eu e cresceram eles. E foi
então, mais ou menos por esta altura, que percebi o óbvio: a inteligência é
como a farinha, não serve para nada sozinha. Aliás, a inteligência, sozinha,
morre. Ora, os meus filhos inteligentes andam todos a dormir à sombra da
inteligência que os professores lhes deram há anos. E isso chega-lhes. Houve um
dia, quando eles ainda lutavam para aprender a ler e a fazer contas de dividir
com dois números, que alguém lhes ditou uma espécie de passaporte para o ócio: «Tu
és muito inteligente, se quiseres consegues melhores resultados.» E todos os
trimestres, com cada um deles, é a mesma coisa: «Tu és muito inteligente, se
trabalhares vais longe, só tens de querer.» É o fim. Este reconhecimento de
inteligência, que do ponto de vista dos professores serve para encorajar e
motivar a miudagem, tem nos meus filhos o efeito contrário: eles enroscam-se na
inteligência e trabalhar, que é bom, nada. Acham que não têm mais nada para
provar e ficam pacientemente à espera que uma vontade vinda do além os faça
trabalhar. E enquanto a vontade não chega, descansam.
Por mim, e desculpem os professores pelo
atrevimento do conselho, eu parava de elogiar a criançada. E se eles forem
inteligentes nunca, jamais, lhes revelaria tal descoberta. Escondia a
informação e até pedia ajuda à Comissão Nacional de Protecção de Dados para
garantir o sigilo. As crianças não têm maturidade para lidar com uma informação
tão preciosa quanto esta. Se elas forem de facto inteligentes, não precisam que
ninguém lhes diga; se não forem, muito menos precisam.
Uma
criança com o rótulo de inteligente na testa acha que se conseguirá safar em
qualquer circunstância. De facto, eles até vão passando de ano, até se safam
nos exames, conseguem aguentar-se estudando apenas na véspera, apanham meia
dúzia de coisas que os professores dizem nas aulas e, muitas vezes, até
conseguem inventar outras tantas, revelando a sua inteligência e criatividade.
Mas mais tarde ou mais cedo, a farra acaba. E quando lhes são exigidos hábitos
de trabalho, treino e responsabilidade, eles nem sabem o que isso quer dizer.
A
verdade é que para qualquer miúdo, inteligente ou não, o que conta na escola e
na vida é a responsabilidade, a capacidade de trabalho e o esforço. E isso
treina-se. A inteligência pode ajudar mas, em qualquer caso, é apenas um
acessório. O mundo dos crescidos está cheio de crianças inteligentes que nunca
acharam que fosse preciso esforçar-se, pois bastava-lhes a inteligência, e por
isso ficaram a meio caminho do sítio onde queriam chegar. Afinal, nunca
passaram de uma promessa.
Há uma
altura na vida escolar e, depois, na vida profissional que o trabalho e a
persistência dão 100 a zero à inteligência. E é aí que os nossos filhos
inteligentes se arriscam a ficar para trás, agarradinhos à sua almofada de
inteligência e a suspirar por um futuro e por uma vontade de trabalhar que não
há maneira de cair do céu. É que é preciso ser-se esperto para usar a
inteligência.