Anne Hendershott, Actualidade Religiosa, 16 de Agosto de 2017
Estudos recentes revelam
que os níveis de esperma de homens no Ocidente desceram 60% desde 1971,
evocando a grande distopia de P.D. James «Os Filhos dos Homens», com a sua
visão de uma sociedade que já não se consegue reproduzir. Baseado no Reino
Unido, em 2021, esta ficção assustadora descreve um mundo de infertilidade em
massa entre os homens, um mundo em que não nascem crianças há 25 anos. No
livro, o último bebé que nasceu é agora um adulto e a população está a
envelhecer. Tal como na realidade actual, os cientistas no livro de James ainda
não conseguiram descobrir uma cura, ou sequer uma causa, para a infertilidade.
No artigo em que
publicam as suas descobertas, na revista Human Reproduction Update,
os investigadores – de Israel, Estados Unidos, Dinamarca, Brasil e Espanha –
concluem que o total de contagem de esperma caiu 59.3% entre 1971 e 2011 na
Europa, América do Norte, Austrália e Nova Zelândia.
Alguns cientistas
afirmam que a «vida moderna» causou sérios danos à saúde dos homens.
Pesticidas, poluição, dieta, stress, tabaco e obesidade… todos têm sido
associados ao problema, com algum grau de plausibilidade. Mas há menos homens a
fumar do que nunca e os controlos de poluição e de pesticidas que os governos
têm implementado ao longo dos últimos 40 anos diminuíram vários destes riscos.
Durante a Revolução
Industrial, no século XIX, os homens incorriam em riscos de saúde muito maiores
ao trabalhar em fábricas numa altura em que não havia sequer regulamentos sobre
a qualidade do ar. Havia menos problemas de fertilidade nessa altura, as
famílias eram numerosas e ninguém se preocupava com a contagem de esperma.
A obesidade pode ser um
factor, mas os investigadores ainda não conseguiram estabelecer uma ligação. Um
grupo de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Loma Linda
fez um estudo ao longo de quatro anos com uma população
de Adventistas do Sétimo Dia, que são rigorosamente vegetarianos. Os resultados
revelaram que os vegetarianos têm uma média de contagem e de mobilidade de
esperma significativamente mais baixas que carnívoros, mas o veganismo é um
estilo de vida minoritário ainda, especialmente entre homens, e por isso não
pode ser a principal causa do fenómeno.
As causas para
este declínio de fertilidade continuam por apurar. Mas para se compreender as
consequências de uma sociedade estéril, a história de P.D. James descreve um
mundo sombrio em que emerge um Governo totalitário para manter a ordem – e
fornecer «conforto» aos residentes. É um mundo em que os animais de estimação
se substituem às crianças e a religião parece ter perdido o seu sentido. Porém,
na tentativa fraca de manter os rituais cristãos as igrejas anglicanas levam a
cabo cerimónias de baptismo elaboradas para os gatinhos de estimação da
população, repletas de vestidos brancos e boinas.
Na sociedade estéril de
P.D. James, o sexo entre os jovens tornou-se «o menos importante dos prazeres
sensoriais do homem». E embora os homens e as mulheres ainda se casem, é
frequentemente com pessoas do mesmo sexo. O desejo sexual diminuiu a par da
fertilidade masculina, não obstante os esforços do Governo para estimular o
desejo através de lojas de pornografia patrocinadas pelo Estado.
De certa forma o romance
de James descreve uma sociedade que conseguiu precisamente aquilo que queria:
prazer sexual sem risco de gravidez. Mas a ironia é que não havendo
possibilidade de procriação, o sexo perde o seu sentido. É um facto que
enfrentamos cada vez mais hoje enquanto debatemos se o Estado deve obrigar
todos os contribuintes, incluindo aqueles que têm objecções religiosas, a pagar
pelos «direitos reprodutivos» de todas as mulheres, numa altura em que há cada
vez mais preocupações com a infertilidade masculina.
Há muito que os
antropólogos e os sociólogos sabem que a questão da fertilidade humana numa
dada população tem de ser vista de uma perspectiva cultural. A cultura é a
forma de vida, ou a concepção de vida que caracteriza cada sociedade humana.
Inclui os valores partilhados, normas e comportamentos de uma dada sociedade.
Para compreender as
taxas de fertilidade e a diminuição da população, devem-se identificar e
modificar as influências culturais. A cultura é importante para se compreender
as taxas de fertilidade e para modificar a actividade sexual, criando uma
relação entre o sexo e a reprodução e o sistema de valores de uma cultura.
Quando, numa determinada sociedade, a chegada de uma criança é desvalorizada, o
acto sexual que produz a criança também se desvaloriza. Note-se que os níveis
de fertilidade masculina estão em queda no Ocidente e não em África, onde as
crianças continuam a ser altamente valorizadas e acolhidas em amor.
Esta perspectiva
sociológica ou cultural estava claramente expressada na Humanae Vitae: Sobre a Regulação da Natalidade, emitida pelo Papa Paulo VI no dia 25 de Julho de 1968, onde se lê:
«O problema da
natalidade, como de resto qualquer outro problema que diga respeito à vida
humana, deve ser considerado numa perspectiva que transcenda as vistas
parciais – sejam elas de ordem biológica, psicológica, demográfica ou
sociológica – à luz da visão integral do homem e da sua vocação, não só natural
e terrena, mas também sobrenatural e eterna.»
Talvez seja chegada a
hora de considerar a sociologia em torno da cultura de «direitos reprodutivos»
que criámos – a cultura de contracepção que o Ocidente
abraçou. Temos de nos questionar sobre o eventual custo psíquico de uma cultura
em que a contracepção e o aborto são de tal forma importantes que o Obama Care
procurou obrigar todos os empregadores – incluindo instituições religiosas – a
fornecer aos seus funcionários seguros de saúde que incluíam cobertura para
medicamentos contraceptivos e abortivos para todos.
É importante realçar que
estes declínios de fertilidade começaram a registar-se em 1971 com o surgimento
da pílula contraceptiva e liberalização do aborto a pedido através de Roe
v. Wade. Será que, tal como na distopia de James, há um preço psíquico a
pagar quando começamos a partir do princípio que podemos controlar todos os
aspectos das nossas vidas? Será possível que
tenhamos sobrecontrolado a nossa própria fertilidade?
Matthew Hanley, Actualidade Religiosa, 2 de Agosto de 2017
Há um aluno da
Universidade de Arizona que acha que é um hipopótamo. Ora aí está uma frase que nunca imaginei escrever. Define-se como um
«tranimal».
Normalmente qualquer
leigo o poderia diagnosticar – mesmo sem lhe pôr os olhos em cima e sem
qualquer medo de negligência – como non compôs mentis. Mas já fomos
todos avisados, à medida que estes desvarios aumentam em número, que qualquer
forma de «auto-identificação» deve ser validada.
Basta perguntar ao professor canadiano que tem sido perseguido incansavelmente por se recusar a alinhar
com a ditadura dos pronomes. Os seus superiores insistem que ele use invenções
gnósticas como Ze, Hir, Xe, Verself, etc., em vez dos pronomes ingleses comuns
(he, she, hers, etc.), sempre que alguém considera que os reflexos gramaticais
da realidade biológica sejam demasiado restritivos.
Tendo em conta que os
advogados têm achado por bem forçar as massas a aceitar estas ilusões (e bem
antes disto já eramos lamentavelmente litigiosos), temo pelo futuro da
Universidade de Arizona. Há claramente um processo no horizonte – se não contra
a universidade, então contra quem alimenta o hipopótamo. Eu já tive a sorte de
ver hipopótamos em liberdade e sei que todas as reservas naturais insistem que
é proibido e punível por lei alimentar animais selvagens. Como é que vai ser
quando a exaltação da autonomia no ramo da sexualidade – que chegou ao ponto de
redefinir a realidade biológica – entrar em conflito com o respeito pelo
ambiente? Nem deve ser uma questão. A vida selvagem fica em segundo lugar, a
autonomia em primeiro.
Por falar em vida
selvagem, vejamos outro exemplo deste conflito. Até envolve outro «tranimal» –
na medida em que se pode referir ao fenómeno dos peixes «inter-sexo» com este
termo. Estamos a falar de peixes machos que estão a desenvolver ovos nos
testículos. Como é que isto acontece? Demasiado estrogénio na água; as ETAR
simplesmente não conseguem lidar com a quantidade de hormonas estrogénicas que
os seres humanos consomem, eliminam e enviam de volta para a natureza.
Há décadas de provas –
que constam até de publicações «mainstream» como a «Nature» – de que o
princípio activo da pílula (EE2), juntamente com outros estrogénios, «causa
danos em larga escala no ambiente aquático, perturbando os sistemas endócrinos
da vida selvagem».
No início de Julho o
professor Charles Tyler da Universidade de Exeter, juntou os seus dados
dramáticos ao monte crescente de provas numa palestra a um simpósio
internacional patrocinado pela Sociedade Pesqueira das Ilhas Britânicas.
A apresentação
chamava-se «A feminização da natureza – uma história não-natural» e era
bastante técnica, mas uma das conclusões principais foi de que testes feitos em
cinquenta locais diferentes revelaram que um em cada cinco peixes machos de
água doce no Reino Unido tinha características femininas. Isto, juntamente com
outros impactos adversos, diminui a capacidade desses peixes de se
reproduzirem. Por outras palavras, o ecossistema está a levar por tabela.
Há muitos outros
contaminantes implicados, como os derivados de cosméticos, plásticos e
detergentes mas, tal como a pílula, estes também têm propriedades estrogénicas
que contribuem para estes desequilíbrios ao nível fisiológico. Outros químicos,
tais como os que se encontram nos antidepressivos, provocam alterações anormais
no ramo do comportamento.
É um dado bem conhecido
que a pílula é carcinogénea; mas isso pode não estar limitado ao consumo
directo. Podemos estar perante um problema mais alargado, por causa dos níveis
de estrogénio na água. Existe uma correlação forte – mas não, sublinho, uma
causalidade comprovada – entre a utilização da pílula na sociedade e o cancro
da próstata nos homens. Essa associação significativa foi detectada em todos os
88 países em que foi investigada.
Seja como for, a
preocupação gerada pela realidade dos peixes inter-sexo – um exemplo inegável
da conspurcação humana do ambiente – é insignificante em comparação com o furor
sobre as alterações climáticas, alegadamente causadas pelo homem. Nem se dá por
ela. Perante dados científicos da ciência tão inegáveis, mas tão inconvenientes
como estes, é muito mais eficiente ignorar do que negar.
A mera quantidade de
repercussões da pílula, a todos os níveis, que é preciso ignorar só se
compreende através de um exercício voluntário do intelecto. Melinda Gates disse
recentemente que a pílula é uma das maiores medidas de sempre para combater a
pobreza. Talvez esteja simplesmente a ignorar o trabalho do falecido economista
Julian Simon, que demoliu essa visão recorrente que, no fundo, revela uma visão
de soma zero de recursos limitados, destinados a diminuir à medida que as
pessoas proliferam. Uma visão temorosa, contradita por resmas de provas. Simon,
por outro lado, sabia que o melhor recurso no planeta são as pessoas e defendia
que é tendo mais pessoas, e não menos, que se chegará à inovação e à
produtividade responsáveis pelo desenvolvimento.
O principal motor do
progresso mundial é uma boa quantidade de conhecimento humano. E o melhor dos
recursos é composto por pessoas esperançosas, qualificadas e animadas, usando a
vontade e a imaginação para se sustentarem a elas e às suas famílias,
contribuindo dessa forma para o benefício de todos.
A investigação de Simon
mostrou-se tão persuasiva que a sua tese passou de contracorrente a largamente
aceite hoje. Até os peixes ficariam contentes se a Sr.ª Gates passasse a ver as
coisas deste modo. Esperar-se-ia que as pessoas que amam a humanidade – como a
Sr.ª Gates, na qualidade de filantropa – ficariam fora de si com a perspectiva
do triunfo do engenho humano sobre as aparentes contrariedades da natureza.
A Sr.ª Gates parece
esperançada de que a Igreja católica esteja em vias de mudar os seus
ensinamentos sobre a contracepção. Talvez saiba algo que eu não sei. É verdade
que algumas pessoas têm especulado sobre alterações
para coincidir com os 50 anos da «Humanae Vitae» no próximo ano.
Há muitas razões
importantes e de peso sobre porque é que isso não é boa ideia, mas eu
acrescentaria mais uma: A aceitação de um conhecido poluente por parte da
Igreja não estaria em contradição com a admoestação de 2015 contida na «Laudato
Si», de «cuidar da nossa casa comum»?