sábado, 21 de agosto de 2010

Carta de um cliente ao BES

(Esta carta foi dirigidaao banco BES, podendo ser também dirigida aos outros bancos, todos abusadores em regime de monopólio)


 
Exmos. Senhores Administradores do BES,

Gostaria de saber se os senhores aceitariam pagar uma taxa, uma pequena taxa mensal, pela existência da padaria na esquina da v/. Rua, ou pela existência do posto de gasolina ou da farmácia ou da tabacaria, ou de qualquer outro desses serviços indispensáveis ao nosso dia-a-dia.

Funcionaria desta forma: todos os senhores e todos os usuários pagariam uma pequena taxa para a manutenção dos serviços (padaria, farmácia, mecânico, tabacaria, frutaria, etc.). Uma taxa que não garantiria nenhum direito extraordinário ao utilizador. Serviria apenas para enriquecer os proprietários sob a alegação de que serviria para manter um serviço de alta qualidade ou para amortizar investimentos. Por qualquer outro produto adquirido (um pão, um remédio, uns litro de combustível, etc.) o usuário pagaria os preços de mercado ou, dependendo do produto, até ligeiramente acima do preço de mercado.

Que tal?

Pois, ontem saí do BES com a certeza que os senhores concordariam com tais taxas. Por uma questão de equidade e honestidade. A minha certeza deriva de um raciocínio simples.

Vamos imaginar a seguinte situação: eu vou à padaria para comprar um pão. O padeiro atende-me muito gentilmente, vende o pão e cobra o serviço de embrulhar ou ensacar o pão, assim como todo e qualquer outro serviço. Além disso impõe-se taxas de. Uma 'taxa de acesso ao pão', outra 'taxa por guardar pão quente' e ainda uma 'taxa de abertura da padaria'. Tudo com muita cordialidade e muito profissionalismo, claro.

Fazendo uma comparação que talvez os padeiros não concordem, foi o que ocorreu comigo no meu Banco.

Financiei um carro, ou seja, comprei um produto do negócio bancário. Os senhores cobram-me preços de mercado, assim como o padeiro cobra-me o preço de mercado pelo pão.

Entretanto, de forma diferente do padeiro, os senhores não se satisfazem cobrando-me apenas pelo produto que adquiri.

Para ter acesso ao produto do v/. negócio, os senhores cobram-me uma 'taxa de abertura de crédito'-equivalente àquela hipotética 'taxa de acesso ao pão', que os senhores certamente achariam um absurdo e se negariam a pagar

Não satisfeitos, para ter acesso ao pão, digo, ao financiamento, fui obrigado a abrir uma conta corrente no v/. Banco. Para que isso fosse possível, os senhores cobram-me uma 'taxa de abertura de conta'.

Como só é possível fazer negócios com os senhores depois de abrir uma conta, essa 'taxa de abertura de conta' se assemelharia a uma 'taxa de abertura de padaria', pois só é possível fazer negócios com o padeiro, depois de abrir a padaria.

Antigamente os empréstimos bancários eram popularmente conhecidos como 'Papagaios'. Para gerir o 'papagaio', alguns gerentes sem escrúpulos cobravam 'por fora', o que era devido. Fiquei com a impressão que o Banco resolveu antecipar-se aos gerentes sem escrúpulos. Agora, ao contrário de 'por fora' temos muitos 'por dentro'.

Pedi um extracto da minha conta - um único extracto no mês - os senhores cobram-me uma taxa de 1 EUR. Olhando o extracto, descobri uma outra taxa de 5 EUR 'para manutenção da conta' - semelhante àquela 'taxa de existência da padaria na esquina da rua'.

A surpresa não acabou. Descobri outra taxa de 25 EUR a cada trimestre - uma taxa para manter um limite especial que não me dá nenhum direito. Se eu utilizar o limite especial vou pagar os juros mais altos do mundo. Semelhante àquela 'taxa por guardar o pão quente'.

Mas os senhores são insaciáveis.

A prestável funcionária que me atendeu, entregou-me um desdobrável onde sou informado que me cobrarão taxas por todo e qualquer movimento que eu fizer.

Cordialmente, retribuindo tanta gentileza, gostaria de alertar que os senhores se devem ter esquecido de cobrar o ar que respirei enquanto estive nas instalações de v/. Banco.

Por favor, esclareçam-me uma dúvida: até agora não sei se comprei um financiamento ou se vendi a alma?

Depois de eu pagar as taxas correspondentes talvez os senhores me respondam informando, muito cordial e profissionalmente, que um serviço bancário é muito diferente de uma padaria. Que a v/. responsabilidade é muito grande, que existem inúmeras exigências legais, que os riscos do negócio são muito elevados, etc., etc., etc. e que apesar de lamentarem muito e de nada poderem fazer, tudo o que estão a cobrar está devidamente coberto pela lei, regulamentado e autorizado pelo Banco de Portugal. Sei disso, como sei também que existem seguros e garantias legais que protegem o v/. negócio de todo e qualquer risco. Presumo que os riscos de uma padaria, que não conta com o poder de influência dos senhores, talvez sejam muito mais elevados.

Sei que são legais, mas também sei que são imorais. Por mais que estejam protegidos pelas leis, tais taxas são uma imoralidade. O cartel algum dia vai acabar e cá estaremos depois para cobrar da mesma forma.





A praia

Helena Matos

Todos os anos é o mesmo: começa o calor e começam as notícias sobre os assaltos nas praias, sobretudo na linha do Estoril. Como tudo isto tem algo de rotineiro, já não espanta a sequência: acontecem uns episódios de violência que logo são desmentidos. Fala-se de populismo e racismo. Em seguida acontecem outros incidentes. Aí assume-se que algo está a acontecer e anunciam-se reforços. As televisões mostram as praias com os banhistas na toalha e os polícias no paredão num tal aparato que mais parece uma zona de guerra cujos habitantes se obstinassem em dar uns mergulhos. Aqui chegados fica tudo mais ou menos satisfeito, porque os miúdos dos ditos bandos desaparecem das praias e dos comboios, presumindo-se que andam a asnear por outros lados. Sobretudo andam a queimar tempo até que já tenham idade para serem tratados como criminosos, pois aquilo que a sociedade faz perante estes grupos de adolescentes é esperar que cresçam e possam então a ser tratados como gente grande. Esta profunda hipocrisia, servida em doses diárias de xaroposa retórica sobre a protecção dos menores, limita-se a funcionar como uma crónica anunciada da delinquência futura. E não fosse a praia nem perceberíamos como esse discurso é falso e, ele sim, criminoso.

A praia é hoje um dos raros locais onde, em Portugal, se misturam grupos, classes, cores, credos. Durante décadas os filhos dos mais diversos portugueses conviveram na escola pública e no serviço militar. Hoje talvez só o futebol e certamente a praia conseguem reunir num mesmo espaço as pessoas independentemente das suas origens. E quando se reúnem torna-se óbvio o que se não quer ver: os portugueses têm medo. Mas nas praias da linha do Estoril não acontece nada que não aconteça durante o restante ano noutros lugares: simplesmente as vítimas não são as do costume.

Os perigos do sexting

Pedro Afonso

Actualmente os avanços da sociedade associados às novas tecnologias e às redes sociais da Internet criaram vários problemas, induzindo alterações do comportamento humano. A evolução é tão rápida que é bastante provável que estejam a surgir novas patologias mentais de que a psiquiatria ainda não teve o tempo necessário para estudar e catalogar.

O sexting é a actividade entre adolescentes que consiste em captar e divulgar imagens de si próprios ou de terceiros, através de mensagem de telemóvel ou da Internet, com seminudez/nudez ou de conteúdo sexual. Este fenómeno tem vindo a aumentar nos EUA entre adolescentes. Uma recente sondagem realizada nesse país, promovida pela National Campaign to Prevent Teen and Unplanned Pregnancy, com 1280 adolescentes e jovens, com idades compreendidas entre os 13 e os 26 anos, revela que entre 20% (13-19 anos) e 33% (20-26 anos) dos entrevistados já usaram o telemóvel para captar e divulgar imagens de conteúdo sexual. Cerca de um terço dos rapazes entrevistados e um quarto das raparigas, com idades entre os 13 e os 19 anos, referiram que já tinham recebido imagens com nudez total ou parcial que originalmente eram privadas mas que circulavam abundantemente entre os jovens.

Enquanto as autoridades norte-americanas estão a olhar para o problema com preocupação e a actuar com dureza, o assunto ainda é pouco discutido em Portugal. Porém, este é um fenómeno global, com repercussões graves e envolvendo vários riscos: exploração sexual, violação do direito à privacidade, chantagem, etc. Os adolescentes não se apercebem do perigo destas situações. Uma vez tirada a fotografia e divulgada por telemóvel ou Internet, perde-se por completo o controlo do seu destino. Deste modo, rapidamente estas imagens surgem em sites pornográficos, muitos deles visitados por pedófilos ávidos de encontrar uma presa.
Na verdade, é impraticável garantir a privacidade através dos meios electrónicos. Além disso, o anonimato é quase impossível dado que é relativamente fácil cruzar informação na Internet. Não obstante este facto, é errado criar um ambiente de pânico ou censurar o acesso dos jovens às novas tecnologias. O mais importante é saber como as utilizar devidamente. Os pais têm aqui um papel fundamental, devendo alertar os filhos para estes perigos e procurar saber sempre o que andam a fazer e com quem habitualmente comunicam na Internet.
Por outro lado, o sexting é um sintoma que reflecte uma sociedade enferma. No campo da sexualidade, passámos de um modelo de educação demasiado normativo (com regras rígidas e conteúdo moral por vezes desadequado), para outro totalmente permissivo, desequilibrado e que nalgumas situações fomenta a perversidade. Ora, educar não é apenas informar, mas orientar e transmitir valores que possam ajudar a realizar escolhas responsáveis. Talvez seja por isso que actualmente nos EUA se fala cada vez mais em sexualidade responsável, enquanto por cá as políticas ligadas à educação sexual dos jovens têm-se limitado praticamente à distribuição de preservativos, o que é manifestamente insuficiente. De outro modo caímos no campo dos instintos, numa sexualidade totalmente hedonista, sem pensamento, governada apenas pelo corpo e pelos desejos, conduzindo inevitavelmente a modelos aberrantes de comportamento.
O sexting, do meu ponto de vista, é um sinal de que algo está errado na forma como os jovens estão a viver a sua sexualidade. Mas creio que, sobre esta matéria, ainda não vimos mais do que a ponta do icebergue.


.

Duas companhias americanas retiram apoio
a um site de invertidos



Depois das acções de denúncia de activistas familiares, duas companhias americanas retiram apoio a um site de invertidos. São elas a Borden Dairy e a Quiznos. Estas companhias anunciavam os seus produtos nesse site e deixaram de o fazer.


.