quarta-feira, 11 de março de 2015


Escândalo em Inglaterra:

11 bebés e uma mãe morreram
por «falhas graves» do hospital


Andreia Félix CoelhoJornal Sol, 4 de Março de 2015

A imprensa britânica divulgou as conclusões de um inquérito ao escândalo que está a abalar o sistema nacional de saúde britânico. O caso Morecambe Bay chocou os ingleses depois de surgirem suspeitas de que dezenas de bebés e mães morreram num hospital por complicações que seriam facilmente tratáveis. A investigação independente a estas mortes conclui agora que existiu «uma série de falhas a todos os níveis» no Hospital Furness General em Barrow, Cumbria, unidade que se revelou «seriamente disfuncional».

Com base neste relatório, o secretário de Estado da Saúde, Jeremy Hunt, já veio pedir desculpa às famílias afectadas e garantiu que a tutela vai «lançar uma longa e implacável busca pela verdade».

A investigação analisou mais de 50 mortes ocorridas entre 2004 e 2013, um número estranhamente elevado que fez soar os alarmes e motivou o inquérito. De todos estes casos, os especialistas concluíram que 11 recém-nascidos e uma mãe morreram por falta de cuidados adequados.

Entre as várias falhas contam-se falta de comunicação entre enfermeiras parteiras e médicos. Estas enfermeiras têm obrigação de monitorizar as mães antes e durante o trabalho de parto, assim como os bebés, prevenindo qualquer complicação. Ao mínimo sinal de que o parto se pode complicar, devem chamar imediatamente um médico obstetra e/ou um neonatologista. Mas isto não acontecia.

As enfermeiras auto-intitulavam-se «As Mosqueteiras» agindo na lógica de «uma por todas e todas por uma» e conspiravam para encobrir os erros umas das outras. Este grupo de mulheres dominava todas as enfermeiras do hospital. Preconizadoras do parto natural «a qualquer custo», introduziram no hospital uma «cultura de ‘eles e nós’», adiando ao máximo os pedidos de auxílio aos obstetras e pediatras. A este comportamento das profissionais de saúde somou-se a falta de pessoal clínico para o número de mulheres e crianças a assistir. Os médicos eram também coniventes com esta situação e ajudaram também a «abafar» vários casos que correram mal.



Os investigadores detectaram ainda relatórios e troca de emails com as famílias das vítimas em que fica claro que os responsáveis da unidade de saúde encobriram as falhas, destruindo mesmo notas médicas e continuando a gerir o hospital com os problemas já detectados.

Mas a investigação aponta também o dedo ao sistema nacional de saúde e fala em «muitas oportunidades perdidas» pelas instituições inspectoras de ter detectado os problemas. Acusa mesmo a Inspecção-Geral, a autoridade regional e mais quatro institutos de negligência, já que deveriam ter levado a cabo investigações mais profundas perante uma taxa de mortalidade tão elevada comparativamente com outras maternidades.

Com base neste relatório, o secretário de Estado da Saúde, Jeremy Hunt, já veio pedir desculpa às famílias afectadas e garantiu que a tutela vai «lançar uma longa e implacável busca pela verdade».

Este escândalo vem relançar o debate sobre a possibilidade de escolha no parto. Os sucessivos governos britânicos têm-se mostrado apoiantes das teorias de que as mulheres devem poder escolher entre ter os bebés em casa, numa clínica de enfermeiras parteiras ou no hospital.  No ano passado, as autoridades de saúde recomendaram mesmo as clínicas de parteiras para a maioria das mulheres terem os seus bebés. Mas, motivados por este escândalo, os especialistas que são contra esta visão, vêm novamente alertar para os riscos de fazer partos fora do contexto hospitalar.





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