Marco
Silva
O único princípio
que trata todos por igual é o mérito e essa é a cura deste problema intemporal
– o das desigualdades de oportunidades.
No dia 23 de Junho deste ano, foi
aprovada no Parlamento a lei das quotas de género nas empresas, obrigando
empresas públicas e cotadas em bolsa a contratar mais mulheres para órgãos de
fiscalização e para os seus conselhos de administração.
Apesar da pompa e circunstância de
mais um «momento decisivo na luta das mulheres», como foi referido por
alguns «corvos» políticos, o certo é que nem um mês volvido e esse entusiasmo
desapareceu, nomeadamente porque na comissão de inquérito independente à
tragédia de Pedrogão Grande foram escolhidos 12 homens e nenhuma mulher, sem
que a maioria que tinha aprovado o diploma uns dias antes tivesse esboçado
qualquer protesto.
Por falta de mulheres competentes
não será certamente, pelo que cumpre perguntar porque se aceita o sucedido.
Será que como não é um tacho público/empresarial duradouro já não tem
importância a desigualdade? Ou será que o problema é bem diferente e não está a
ser combatido?
Curiosamente, foi do PCP que chegou
a causa mais aproximada ao real problema quando, ao votar contra a lei,
invocou: porque deixa «intacta a mais profunda das causas de discriminações e
desigualdades de que as mulheres são vítimas, a exploração da força de
trabalho». Embora a explicação do PCP não atinja o cerne do problema,
enquadra-o satisfatoriamente. As mulheres, tal como os homens, mas em menor
grau, são vítimas da não aplicação da meritocracia. Ou seja, não é pelo mérito
que existe a contratação, nem é pelo mérito que é feita a devida remuneração.
Esse modus operandi tem um nome, e não, não é machismo,
mas corrupção.
É nesta armadilha que caem grande
parte dos defensores da igualdade de género, quando erradamente identificam o
machismo como o problema e não como o sintoma que ele é, tal como o é o
racismo. Todos os actos de preterir alguém por outro motivo que não o seu
mérito devem ser tratados por igual, como actos de corrupção, e só com o
recentrar do combate será possível termos uma sociedade igualitária, não por
decreto, mas por princípio.
Até porque estes actos isolados de
«correcção» são os pilares para a perpetuação e branqueamento da corrupção.
Senão vejamos, a partir de agora nas empresas públicas teremos cinco homens e
cinco mulheres, sem que o princípio primário seja o mérito, o que permite, num
país com um elevado índice de corrupção, a colocação de cinco mulheres do
aparelho partidário do Governo ou de uma associação de poder.
Na fachada parece existir igualdade
de género, contudo, é uma falácia, porque as mulheres, tal como os homens, não
têm qualquer estatuto de igualdade perante os que pertencem aos grupos que
dominam as instituições nacionais, sejam elas públicas ou privadas. Em suma,
não são as mulheres que têm mais oportunidades no novo sistema, mas apenas as
mulheres do grupo privilegiado.
E quem fala nas mulheres fala também
nos homens preteridos por não terem cartão do partido, ou nas desigualdades de
oportunidades dentro do mesmo género, mas de raças ou orientações sexuais
diferentes. O único princípio que trata todos por igual é o mérito e essa é a
cura deste problema intemporal – o das desigualdades de oportunidades.
Dito isto, uma cultura de mérito não se cria num
dia nem numa geração, mas o passo essencial para que tal ocorra é deixarmo-nos
de equívocos quanto ao que está realmente em causa. Não é machismo, é
corrupção, corrupção que é transversal a todos os géneros e raças. O problema
não está no «homem branco», este apenas tem sido o principal prevaricador por
uma questão de oportunidade temporal. O problema está em todos os seres humanos
que não tenham o mérito como linha orientadora
de escolha.
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