Bernardo Sacadura
Não basta votar para dizer que vivemos numa sociedade livre, essa é apenas uma das expressões de liberdade, as restantes estão a ser combatidas pelos promotores da ideologia de género.
A ideologia de género é sem dúvida a ditadura mais forte dos tempos modernos. Sob a capa do politicamente correcto e da protecção das minorias, pretende-se implementar o pensamento único. Para a propagação desta ideologia utilizam a única táctica de sucesso conhecida: 1. Silenciamento dos opositores; 2. Revisionismo histórico e alteração de conceitos; 3. Doutrinação das massas. O que esta ideologia defende é que ser homem ou mulher é uma construção social e não depende do sexo com que nascemos. Como dizia Simone Beauvoir «Ninguém nasce mulher, torna-se mulher». As consequências da propagação na sociedade desta ideia, aparentemente simples, são incríveis.
1. Silenciamento dos opositores
A campanha de silenciar todos os que pensam de forma contrária é evidente. Recentemente tivemos as reacções às declarações do Dr. Gentil Martins e do psicólogo Abel Matos Santos. Devemos distinguir dois grupos distintos. O primeiro é aquele que pretende silenciar através de processos e denúncias classificando as declarações de homofóbicas, discursos de ódio etc; o segundo é aquele que diz defender a liberdade de expressão mas ataca a integridade dos opositores e não o conteúdo, a velha conhecida falácia ad hominem utilizada sempre que os argumentos contrários são inatacáveis (Luís Aguiar Conraria foi particularmente longe, sugerindo que o Dr. Gentil Martins tem o seu intelecto afectado, confundindo a perda natural de faculdades físicas com intelectuais e sugerindo que o que move Abel Matos Santos é ser homofóbico).
Este grupo de indignados e ofendidos é o mesmo que ignora quando este ano a comunidade homossexual, bissexual, intersexo etc, sai às ruas de Lisboa em festa com a catástrofe de Pedrógão já a acontecer e com mortos anunciados, numa demonstração clara de insensibilidade e alucinação social. Ignoram quando nessa «festa», a tolerante e sofisticada comunidade acusa uns barbeiros de fascistas e apela à sua morte (o vídeo está aqui).
Estas bichas matam fascistas - Marcha LGBT - Lisboa 2017 |
Em Espanha foi impedido de circular um autocarro da organização Hazte Oir que tinha a seguinte mensagem «Os meninos têm pénis, as meninas têm vulva. Que não te enganem. Se nasces homem, és homem. Se és mulher, continuarás a sê-lo». Esta mensagem foi colocada nas ruas de Madrid como resposta a 150 cartazes da associação de famílias com menores transexuais Chrysallis na qual, com uma imagem de crianças nuas e com genitais trocados, defendiam que «Há meninas com pénis e meninos com vulva». Esta campanha não foi alvo de censura. A da organização Hazte Oir foi.
Na aberta e tolerante América não faltam casos de processos a pasteleiros e floristas cristãos que se recusam a participar em casamentos homossexuais devido às suas crenças religiosas (). A dona da pastelaria Cakes by Melissa foi condenada a pagar 135 mil USD como reparação dos danos causados a duas lésbicas que sentiram muita ansiedade e stress pela recusa da confecção do bolo. A multa foi paga e a pastelaria fechou.
É preciso combater a liberdade religiosa. Foi assim na ditadura nazi, é assim no comunismo e é assim na ditadura da ideologia de género.
2. Revisionismo histórico e alteração de conceitos
George Orwell na sua obra prima 1984, descreveu de forma exemplar este fenómeno de revisionismo histórico. O protagonista do livro é um funcionário do Ministério da Verdade e tem como função alterar toda a história para garantir que o Estado nunca se engana. Por exemplo, se as previsões de produção de um determinado bem falharam, todos os arquivos são revistos para ou diminuir ou igualar a previsão, garantindo assim que a produção ou foi excedida ou foi exactamente a prevista pelo Governo.
O argumento para desclassificar os actos homossexuais como uma patologia segue o mesmo racional de revisionismo histórico. Tipicamente é apontado que desde os anos 70 a homossexualidade deixou de ser doença. Convém recordar que o que aconteceu foi que através de uma votação muito disputada a Associação de Psiquiatras Americanos deixou de classificar a homossexualidade como uma doença (que diria Einstein deste extraordinário método cientifico?). Ou seja, somos obrigados a aceitar que a partir desta decisão tomada por votação tudo o que até então era verdade passou a mentira, e que os próprios que votaram contra esta decisão e continuam a não acreditar devem ser desconsiderados.
Relativamente à alteração de linguagem e conceitos, pego novamente no livro 1984. O Estado tinha inventado a «novilíngua» com dois objectivos: limitar a liberdade e influenciar o pensamento. Uma língua em que a mesma palavra podia ter significados opostos (e.g. negrobranco) e outras que assumiam significados opostos ao original (veja-se o lema do partido «Guerra é Paz, Liberdade é Escravidão, Ignorância é Força»). Uma das ideias base da «novilíngua» era de que aquilo que não podia ser descrito por palavras deixava de existir.
O exemplo mais claro da utilização desta táctica no âmbito da ditadura da ideologia de género é a passagem da palavra «sexo» para «género». O sexo refere-se à parte biológica, o género à construção social. Outro exemplo passa pela utilização de adjectivos a classificar conceitos objectivos (e.g. «casamento tradicional»; «família tradicional»), permitindo assim pressupor que há mais variáveis para os mesmos conceitos. São incontáveis os exemplos de alteração da linguagem devido à ideologia de género (há pouco tempo descobri que as pessoas que se identificam com o seu sexo são «cisgénero»).
Esta aberração está na base do inclusivo «Hello Everybody» no metro de Londres em detrimento do discriminatório «Ladies and Gentleman», garantindo assim uma comunicação mais neutra e menos susceptível aos que não sabem o que são mas que sabem que não são nem Mulheres nem Homens.
3. Doutrinação das massas
Por fim a doutrinação das massas. Na marcha LGBT deste ano a própria secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade afirmou a estratégia do governo: «(…) não chega só mudar a lei, é necessário ter educação para a cidadania nas escolas». A educação para a cidadania não é mais do que doutrinar os jovens para a aceitação da ideologia de género. Doutrina-se que é totalmente igual uma pessoa que tem atracção pelo sexo oposto e a que tem pelo mesmo sexo. Que tudo o que dá prazer é bom. Fomenta-se a descoberta desordenada da sexualidade, confundem-se as crianças e desconsidera-se o papel dos pais na educação dos filhos por troca do pai Estado.
Na Alemanha o caso Dojan vs Alemanha é revelador deste poder do Estado. O caso remonta à década passada no qual vários casais impediram os seus filhos de participar nas aulas de educação sexual por ir contra as suas crenças cristãs. Os filhos tinham entre 6 e 10 anos. O casal Dojan não queria que a filha de 10 anos participasse numa peça de teatro denominada «O corpo é meu». Foram condenados. Outro casal também envolvido no caso recusou-se a pagar a multa e foi preso. Considerou o tribunal alemão que o papel do Estado «(…) não é limitado à transmissão de conhecimentos mas também dirigido à criação de cidadãos emancipados e responsáveis (…) evitando a formação de ‘sociedades paralelas’ motivadas por formação religiosa ou ideológica» (pág. 5 – tradução livre). A sentença confirmada em 2011 pelo tribunal Europeu dos Direitos Humanos.
Os sinais estão todos aí e são evidentes. Estão reunidos todos os ingredientes necessários para a implementação da ditadura de pensamento. Foi assim com o nazismo e é assim com o comunismo (que infelizmente ainda mexe). A tentativa de hegemonia de pensamento do grupo dominante sobre os dominados é clara. Não basta votar para dizer que vivemos numa sociedade livre, essa é apenas uma das expressões de liberdade, as restantes estão a ser combatidas pelos promotores da ideologia de género.
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