Cid Alencastro
Pode parecer surpreendente, mas talvez a preguiça,
sobretudo a mental, seja a paixão mais frequente em produzir mentecaptos.
Habituando-se a não fazer esforço, a não querer enfrentar o ambiente hostil que
o rodeia, a nunca lutar — «dá trabalho»… «dá preocupação»… «exige empenho»…
«não é comigo»… — a pessoa acaba por ficar meio aparvalhada e deixa-se levar
pela televisão, pela moda, pela opinião dos outros, como uma folha seca que o
vento carrega para qualquer lado e acaba por ser pisada como inútil e desprezível.
É um néscio, um idiota, um imbecil com o qual não se pode contar para nada de
sério ou racional.
A preguiça mental costuma exercer forte tirania em
relação aos seus escravos, a ponto de estes preferirem qualquer coisa a terem
que lutar ou fazer algum esforço. Disseram-me que o colesterol é produzido por
gorduras que aderem às faces internas das veias e impedem o sangue de circular
normalmente. A imagem é-me muito cómoda para exprimir esse «engorduramento» das
veias do pensamento, que impede a irrigação do cérebro pelo sangue vivo e
borbulhante da reflexão bem feita, da observação precisa, da análise objectiva
da realidade. E, tudo isso, porque pensar pode levar a conclusões
desagradáveis, pode ser um convite à luta, ao esforço, em suma, obriga a sair
de entre os lençóis mentalmente «engordurados» da preguiça para o campo de
batalha. Se as evidências furam os olhos, o melhor é fechá-los para não ver e
não ter que sair das prazerosas comodidades interiores da moleza.
Esse gosto mórbido da inacção mental explica que
tenha sido possível aos arautos da esquerda ir introduzindo no convívio social
das nações, sem oposição proporcionada, as maiores aberrações intelectuais,
como a Ideologia de Género, a generalização da matança de inocentes
no ventre materno, os horrores da arte moderna; e, na Igreja, a contestação de
doutrinas evidentes, a demolição de cerimónias ancestrais belíssimas, de
costumes tocantes. São máquinas de opinião pública que vêm despejando sobre as
pessoas esses e outros horrores, como certos tubos enormes despejam asfalto
numa via de terra para se constituir ali uma estrada, enquanto o «louco» olha
para isso com olhar desagradado, mas aparvalhado.
Alguém dirá: mas muitas pessoas não estiveram de
acordo com essas novidades malsãs!
O problema é exactamente esse! A grande maioria dos
que não estavam de acordo não quis lutar, limitou-se a um choramingo, a
exprimir um desagrado. Preferia que não houvesse essas mudanças, mas deixar as
suas comodidades interiores para entrar no campo de batalha ideológico, muitas
vezes psicológico, isso não! Ante tal omissão, as muralhas da civilização
cristã foram sendo derrubadas uma a uma, sem que os habitantes da cidade de
Deus se levantassem corajosamente para impedir a entrada dos inimigos. Hoje
estes dominam.
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