Em boa hora os nossos governantes tiveram a sensata iniciativa de promover aulas obrigatórias de educação sexual. Não obstante os testes dos alunos que terminaram os seus estudos secundários acusarem a sua deficiente preparação científica e literária, os nossos governantes aperceberam-se (vá-se lá a saber como...) que ainda pior é a sua falta de conhecimento sobre a sexualidade, pelo que, em vez de proporem mais aulas de português ou de matemática, optaram por sobrecarregar o já muito preenchido currículo escolar com mais uma disciplina, a famigerada educação sexual.
Na realidade, um dos problemas que mais aflige a nossa juventude é a falta de informação sobre o sexo porque, como é evidente, é um tema tabu na nossa sociedade. Basta ligar a televisão a qualquer hora para se comprovar que assim é: não há filme ou telenovela que aborde, nem que seja ao de leve, a sexualidade. As músicas que ouvem os jovens também não têm qualquer referência explicitamente sexual, pois este tema não interessa aos compositores na berra. A internet peca igualmente pela ausência de conteúdos dessa índole: não obstante a generosa oferta dos «Magalhães» à malta, os nossos adolescentes vêem-se e desejam-se para encontrar na net informações que saciem a sua louvável ânsia de conhecimentos sobre a sexualidade.
Também as famílias são, em regra, espaços proibidos para tão delicada questão. O rapaz, ou a rapariga, que vive com a mãe cujo namorado é o pai de uma colega que vive em união de facto e que já abortou o filho de uma anterior relação, geralmente ainda acredita que os bebés vêm de Paris.
Como nos recreios os rapazes só falam da teoria da relatividade e do existencialismo e as meninas, como compete à sua esmerada educação, de bordados e puericultura, os governantes acharam por bem que, pelo menos nas aulas, se fale de sexo. Espera-se que as escolas estejam preparadas para amparar o choque psicológico que uma tal surpresa representará para muitos dos nossos adolescentes, que acreditam ainda, como é sabido, nas cegonhas, o que, diga-se de passagem, é ecologicamente muito correcto, e no Pai Natal, o que, em termos comerciais, o não é menos.
Por último, sendo o sexo uma realidade essencialmente prática e a escola um âmbito de formação profissionalizante, é de crer que a leccionação da nova disciplina seja confiada a especialistas, e não aos professores das outras matérias, que pouco ou nada sabem desta temática. A bem dizer, não basta que esses mestres de educação sexual sejam pessoas conhecedoras da teoria correspondente, mas também da sua prática, na medida em que a Guia de Educação Sexual da ONU, elaborada pela UNESCO com a colaboração da OMS, prescreve, entre outras barbaridades, a apologia da sodomia e a prática do onanismo, a partir dos cinco anos de idade (UNESCO, International Guidelines on Sexuality Education: An evidence informed approach to effective sex, relationships and HIV/STI education; UN News, 27-08-09; Family Edge, 31-08-09).
Não sendo crível que nenhum professor digno desse nome se preste a tão aviltante serviço, a leccionação da disciplina de educação sexual deverá ser confiada a pessoas sem escrúpulos morais, mas vasta experiência nesse âmbito, ou seja, a profissionais do sexo. O benemérito programa governamental das novas oportunidades, que oferece diplomas a troco de experiência profissional, poderia estabelecer um bacharelato em sexualidade, via ensino, para quantos se dedicam ao tão educativo exercício da mais antiga profissão do mundo.
Gonçalo Portocarrero de Almada
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