Mãe e filhas jogando xadrez (obra de Francis Coates Jones, 1857 – 1932) |
Paulo Roberto
Campos, IPCO, 11 de Março de 2017
A respeito deste «Dia
Internacional da Mulher», textos e mais textos foram publicados ad
nauseam em todos os jornais impressos ou online. Tal dia
não passa de uma absurda invenção imposta pelo movimento feminista, copiando
uma propaganda do regime comunista na antiga URSS. Hoje vemos que realmente o
comunismo não morreu — ele «espalhou os seus erros pelo mundo», sendo um deles
o chamado «feminismo». E certos media colaboram prematuramente para espalhar
tais erros.
Assim, os media repetiram baboseiras
infindas e duras críticas a mulheres que se defendem enquanto «rainhas do
lar», esposas e mães, como se estes atributos tão nobres e elevados
não pudessem ser considerados «direitos da mulher». Para os media esquerdistas
e o «movimento feminista», o «direito da mulher» é, por exemplo, o «direito ao
aborto» — o direito da mulher matar o próprio filho que está a gestar!
Entretanto, na essência às
mencionadas baboseiras, encontrei um texto primoroso. Foi publicado há cinco
anos no «Dia Internacional da Mulher» («Folha de S. Paulo», 8-3-12), da autoria
da jovem Talyta Carvalho [foto abaixo]. Imagino que este texto foi
rasgado, pisado e queimado pelas «feministas» radicais, que, no fundo,
desejariam mesmo era «queimar» como «herege» a própria autora, acusando-a de
ser contrária ao «apoderamento feminino», à «igualdade de género», à «lei do
feminicídio», de ser «politicamente incorreta», «preconceituosa» etc..
Acusações levianas, mas que nos estimulam a divulgar largamente o
interessantíssimo artigo, que abaixo transcrevo.
Talyta Carvalho (Filósofa especialista em renascença e mestre em ciências da religião pela PUC-SP) |
Não devemos
nada ao feminismo
Talyta
Carvalho
As feministas chamaram «libertação»
à saída forçada do lar para trabalhar; a sua intolerância tornou constrangedor
decidir ser dona de casa e cuidar dos filhos.
Na história da espécie humana, a
ideia de que a mulher deveria trabalhar prevaleceu com muito maior frequência do que a ideia de que deveria ficar em casa a cuidar dos filhos.
Não raro, o trabalho que cabia à
mulher era árduo e de grande impacto físico. Para a mulher comum na
Pré-história, na Idade Média, e até no século XIX, não trabalhar não era uma
opção.
Uma das conquistas do sistema
económico foi que, no século XX, a produtividade tinha aumentado tanto que um
homem de classe média era capaz de ter um bom salário o suficiente para que a
sua esposa não precisasse de trabalhar.
No período das grandes guerras e no
entreguerras, a inflação, os altos impostos e o retorno da mulher ao mercado de
trabalho (que significou um aumento da mão de obra disponível) diminuíram de
tal maneira o rendimento do homem comum que já não era mais possível que a
maioria das mulheres ficasse em casa.
A este movimento forçado da saída da
mulher do lar para o trabalho as feministas chamaram «libertação».
É óbvio que não se está a defender
aqui que as mulheres não possam trabalhar, não casar, não ter filhos ou que não
possam agir de acordo com as suas escolhas em todos os âmbitos da vida. Não é
essa a questão para as mulheres do século XXI pensarem a respeito.
O ponto da discussão é: em que
medida a consequência do feminismo, para a mulher contemporânea, foi o
estrangulamento da liberdade de escolha?
Explico-me. Por muito tempo, as
feministas reivindicaram a posição de luta pelos direitos da mulher, excepto se
esse direito for o direito de uma mulher não ser feminista.
Assumir uma posição crítica ao
feminismo é hoje o equivalente a ser uma mulher que fala contra as mulheres.
Ilude-se quem pensa que na universidade há um ambiente propício à liberdade de
pensamento.
Como mulher e intelectual, posso
afirmar sem pestanejar: nunca precisei «lutar» contra os meus colegas para ser
ouvida, muito pelo contrário. A batalha é mesmo contra as colegas mulheres,
intolerantes a qualquer outra mulher que pense diferente ou que não faça da
«questão de género» uma bandeira.
Não ser feminista é heresia
imperdoável, e a herege deve ser silenciada. Até mesmo porque há muito em jogo:
financiamentos, vaidades, disputas de poder, privilégios em relação aos colegas
homens — que, se não concordam, são machistas e preconceituosos, claro.
Outro direito que a mulher do século
XXI não tem, graças ao feminismo, é o direito de não trabalhar e escolher ficar
em casa e cuidar dos filhos — recomendo, sobre a questão, os livros «Feminist
Fantasies», de Phyllis Schlaffly, e «Domestic Tranquility», de F. Carolyn
Graglia. Na esfera económica, é inviável para boa parte das famílias que a
esposa não trabalhe.
Na esfera social, é um
constrangimento garantido quando perguntam «qual a sua ocupação?». A resposta
«sou só dona de casa e mãe» já revela o alto custo sociopsicológico de uma
escolha diferente daquela que as feministas fizeram por todas as mulheres que
viriam depois delas.
O erro do feminismo foi reivindicar
falar por todas, quando na verdade falava apenas por algumas. De facto,
casamento e maternidade não são para todas as mulheres. Mas a nova geração deve
debater estes dogmas modernos sem medo de fazer perguntas difíceis.
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