quinta-feira, 23 de junho de 2016


Os islamófilos


Alberto Gonçalves, Diário de Notícias, 19 de Junho de 2016

Na sua página do Twitter, a dona Catarina Martins recomendou um artigo do Público intitulado «Não sou Orlando, sou LGBT». O artigo, assinado por um «estudante» e «activista» (leia-se um rapaz do BE), fala em «ataque homo-bi-transfóbico» (caramba!) e termina a convocar as massas para uma marcha em Lisboa. Ao citá-lo, a dona Catarina Martins repete o cliché de outros grandes vultos da humanidade, incluindo a excelência que ocupa o cargo de primeiro-ministro: a matança naquela cidade da Florida reduz-se a um acto de homofobia, que segundo o dr. Costa «feriu de morte a Liberdade sic».


Apesar de a escrever com maiúscula, o dr. Costa tipicamente desconhece o significado da palavra. Liberdade é justamente permitir a existência de opiniões ou sentimentos distintos dos nossos, por patetas ou grotescos que os consideremos. A homofobia, enquanto pavor da homossexualidade ou ódio a homossexuais, é uma opinião ou um sentimento, matérias que só um espírito muito pouco livre pode achar criminosas. Numa sociedade decente, um indivíduo deve gozar do pleno direito de abominar gays, ciganos, brancos, banqueiros, esquimós, loiras, drogados, anões, políticos ou benfiquistas. Não pode é pôr as suas «convicções» (digamos) em prática a ponto de prejudicar alguém. Isso é que constitui um crime. O resto é, se assim o entendermos, mera estupidez.

E estúpido também é acreditar nas aflições de tantas almas perante os «ataques homo-bi-transfóbicos». Sobretudo quando essas almas defendem em simultâneo o exacto tipo de cultura que, em vez de ridicularizar a homofobia, incentiva-a. E que, em vez de punir as atrocidades cometidas a pretexto, legitima-as. Toda a versão «mediática» da discoteca Pulse ignora o elefante no meio da sala – e que partiu a louça por culpa de Newton e da gravidade.

A fim de evitar a demência terminal, convém reparar no elefante: Omar Mateen, o assassino, era muçulmano e afirmou agir em nome do islão. Os países subjugados ao islão condenam e perseguem legalmente os homossexuais. Os Estados Unidos, por exemplo, condenam e perseguem legalmente as criaturas que agridem homossexuais. Não me lembro de nenhuma ocasião em que, no «confronto de civilizações» ou no que lhe quiserem chamar, a maioria dos nossos alegados inimigos da discriminação estivesse do lado que costuma proteger as respectivas vítimas.

Será cisma minha, mas desconfio um bocadinho do «activista» que, mal termina a marcha contra a homofobia, corre a marchar pela Palestina (embora, concedo, sejam raríssimos os tiroteios nos clubes gay de Gaza). Para não fugir demasiado do imaginário, é uma figura tão credível quanto um entusiasta da Noite de Cristal que se afirmasse amigo dos judeus. Usar quem morre para alimentar uma «causa» sem nunca valorizar a causa confessa de quem mata é, no mínimo, um acto de oportunismo velhaco. No máximo, é patrocinar a chacina. Evidentemente, essa gente não é Orlando nem LGBT: é, como sempre foi, pela força que representar a maior ameaça ao Ocidente.

E, conforme se constata pelos alvos quotidianos dos terroristas islâmicos, organizados ou «espontâneos», o Ocidente não se esgota nos perversos sodomitas. Temos igualmente galdérias que exibem a pele na via pública, hereges que assistem a concertos de rock, tarados que aguardam aviões em aeroportos, infiéis que frequentam restaurantes, blasfemos que caminham pela rua, todos a pedir para que um mártir os rebente. As fobias, ao que se vê, são inúmeras, e se ousamos atribuir-lhes um padrão comum ganhamos mais uma: islamofóbicos.

As acusações de «islamofobia» são a tentativa de simular escândalo face aos triviais, e compreensíveis, receios do cidadão comum: lá por conter umas dúzias (ou uns milhões, não importa) de extremistas, o islão – homessa – é essencialmente moderado. Por mim, tenderia a crer piamente no islão moderado se este entregasse com regularidade os seus radicais filhos à polícia ou, na falta de esquadra próxima, os pendurasse no alto de um poste. A quantidade de desculpas prontas ou pesares tardios com que trata psicopatas faz-me duvidar ligeiramente do empenho do islão moderado em justificar a designação. É claro que muitos muçulmanos não sonham com a explosão de transeuntes. Porém, já que se pretende banir ou castigar opiniões, seria interessante questioná-los sobre o respeito que dedicam às mulheres, a certos grupos étnicos, a determinadas religiões e, se não for maçada, aos homossexuais. Aliás, eles respondem ainda que ninguém lhes pergunte. Os «activistas» é que fingem não ouvir.





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