sábado, 31 de janeiro de 2015


A Violetta e os ídolos dos nossos filhos


Inês Teotónio Pereira

Da Violetta à Hannah Montana, de Britney Spears a Justin Timberlake, nós pais somos financiadores e motoristas

Não sei se estão estudados os ingredientes que são precisos para se ser ídolo infantil, mas a verdade é que nos últimos anos desenhou-se um padrão entre Hannah Montana, Britney Spears, Justin Timberlake, Justin Bieber, One Direction e agora a Violetta. Todos eles moveram multidões e juntaram pais e filhos em cantorias dentro do carro, nos concertos e na compra de todo o tipo de produtos que exploram e bem a imagem dos respectivos artistas. A grande novidade face aos ídolos das gerações anteriores, em que os jovens arrancavam cabelos e desmaiavam quando ouviam e tocavam nas estrelas de rock, é que a idade dos fãs diminuiu substancialmente. Agora os fãs são as crianças, o público das maiores estrelas tem menos de 12 anos. Quem hoje conseguir conquistar o coração de uma criança até aos 12 anos tem o sucesso garantido. Os jovens não dão metade do rendimento e os adultos estão cada vez mais segmentados. As crianças, por sua vez, têm duas vantagens imbatíveis: são fáceis de cativar quer visual quer musicalmente e têm um financiador muito mais generoso e ilimitado que o BCE: os pais. Os pais pagam o que for preciso para ver o filho sorrir e para satisfazerem os seus caprichos, mesmo que eles durem apenas um ano lectivo. Só se é pai uma vez e já se sabe que é difícil dizer «não» a uma criancinha amorosa que sabe de cor as músicas da Violetta e que ainda por cima faz as coreografias exemplarmente. Por isso, conquistar o coração de uma criança até aos 12 é o mesmo que conquistar o coração dos pais e os respectivos cartões de crédito.

Todos estes ídolos infantis perceberam isso: falaram directamente para os miúdos através dos canais infantis e deixaram que fossem as crianças a fazer as birras, as coreografias e a convencer os pais dos seus talentos. Uma vez mordido o isco, o resto torna-se cada dia mais fácil: multiplicam-se os fãs ao ritmo do marketing fácil até que a moda se transforma em fenómeno. Todos estes ídolos tiveram o brilhantismo de conseguir fazer este bypass aos pais e no fim ainda lhes pedir dinheiro. A Violetta leva 75 mil pessoas ao Meo Arena este fim-de-semana, houve filas de horas para comprar bilhetes e houve até quem comprasse bilhetes por 500 euros. Só que dessas 75 mil pessoas pelo menos um terço são pais, o dinheiro é todo deles e não foi preciso gastar um tostão para os convencer a gastá-lo. Apenas precisaram de convencer os filhos. Nada de novo.

Nada disto tem mal nenhum, apenas revela uma coisa: entre nós e os ídolos dos nossos filhos não está ninguém. Da Violetta à Hannah Montana, de Britney Spears a Justin Timberlake, nós pais somos essencialmente financiadores e motoristas.

Se é bom ou mau os nossos filhos de sete e oito anos terem estes ídolos tão cedo, não sei, nem ponho em causa o talento de cada um deles. Sei apenas que cada vez mais os pais têm menos influência nas paixões e nos gostos dos filhos e que estes fenómenos, que nascem apesar de nós, fazem com que os nossos filhos sejam adolescentes bem mais cedo do que a idade da adolescência. Com apenas oito anos, as nossas crianças entretêm-se com séries que não são mais do que telenovelas e deliram com modelos que há uns anos só despertavam interesse em raparigas de 14 anos. As Cindies e as Barbies ganharam vida e em vez de brincarem às bonecas as nossas filhas mais pequeninas sonham agora com romances e com desgostos de amor.

Tudo isto seria natural se os mesmos pais tivessem a mesma coerência no que diz respeito à liberdade, à segurança, ao sucesso e ao futuro dos seus filhos. Mas não. Se por um lado não se importam que as suas crianças tenham os ídolos que elas bem entenderem e que os escolham antes de terem idade para irem para a escola sozinhas, por outro lado não as deixam subir às árvores, vivem obcecados com a influência que a música «Atirei o Pau ao Gato» possa ter no desenvolvimento das suas crias – não vão elas atirar paus aos gatos por causa da música – e receiam que o cigarro do Lucky Luke possa instigar os petizes a viciarem-se no tabaco. A falta de controlo nos ídolos dos nossos filhos equilibra-se com o exagero no controlo de coisas inócuas. Porquê? Também não sei. Mas enquanto este paradoxo não se resolve resta-nos esperar para ver em que modelo sexual a Violetta se vai tornar, cumprindo a tradição da clássica Britney Spears e da irreconhecível Miley Cyrus.





Sem comentários: