domingo, 23 de março de 2014
Um bispo valente denuncia a pornografia
Austin Ruse
Não me recordo daquele momento eléctrico em que vi pornografia pela primeira vez, mas lembro-me como em miúdos, no início dos anos 60, éramos obcecados pelas imagens da Playboy.
Lembro-me como tudo isso parecia normal entre os adultos, embora não entre os meus pais. Uma vizinha perguntou uma vez se o meu pai queria trocar uns romances pelas Playboys do seu marido, que estava doente e não tinha nada para ler. O meu pai recusou, mas como é que eu sabia sequer disso? Eu escondo a própria existência desse tipo de coisa das minhas filhas.
Lembro-me que um dos meus amigos roubava Playboys ao seu pai e nós escondíamo-las no mato. Que rapaz de certa idade não se lembra de folhear revistas dessas, húmidas de terem estado escondidas debaixo de troncos e árvores? Lembro-me do cheiro.
Lembro-me de ter ficado de castigo quando a minha mãe descobriu um «Playboy: Entretenimento para Rapazes» mal desenhado, que eu tinha feito e agrafado para mostrar aos amigos. O castigo ficou a cargo do meu pai, mas não me lembro se levei com o cinto ou se apanhei o sermão do desapontamento.
Estes pensamentos, e outros, voltaram recentemente quando li o início da Carta Pastoral do bispo Paul Loverde, de Arlington, Virginia. Será publicada oficialmente na festa de São José, o que é apropriado porque a carta enfatiza que o pai tem responsabilidade de proteger a sua família do flagelo da pornografia. Esta é a sua segunda carta pastoral sobre pornografia e, tanto quanto sei, apenas a terceira de qualquer bispo americano, sendo a outra da autoria do bispo Robert Finn, de Kansas City.
Num livro sobre este assunto Matt Fradd conta como, ao procurar numa arca de coisas antigas na garagem de um parente, encontrou «uma fotografia lustrosa de uma mulher completamente nua. Suspirei, parecia que o meu coração tinha parado – nunca tinha visto nada assim». Diz que sentiu fascínio e depois remorso.
Não foi assim que tantos de nós entrámos em contacto com estas coisas?
Durante anos Fradd viu cada vez mais destas imagens. Escreve que «comecei a compreender que quando maridos e pais usam pornografia, não só se tornam escravos do pecado, mas ferem profundamente a sua habilidade de amar e proteger, da forma como a sua vocação exige».
O final feliz de Fradd, depois de anos de luta, não é a norma hoje em dia, porque o mundo está imerso em pornografia. Aquelas primeiras imagens digitais atingem os jovens cérebros e continuam a escravizá-los, até depois do casamento e do começo da vida familiar. Os casamentos e as famílias são destruídas por elas.
O bispo Loverde é um verdadeiro pastor por publicar uma segunda edição de «Bought with a Price (edição Kindle)»:
«Nos meus quase cinquenta anos de padre vi o mal da pornografia a espalhar-se como uma praga através da nossa cultura. Aquilo que era o vício vergonhoso e ocasional de poucos tornou-se agora o entretenimento usual de muitos... A praga persegue a alma de homens, mulheres e crianças, dilacera os laços do casamento e vitimiza os mais inocentes de entre nós. Obscurece e destrói a habilidade das pessoas de se verem umas às outras como uma expressão bela e única da criação de Deus, em vez disso escurece a sua visão, levando-os a ver os outros como objectos a serem usados e manipulados».
Elenca a ameaça, bem conhecida de todos os que já foram consumidores de pornografia ou que simplesmente estão a par do seu alcance e da sua profundidade. Mas acrescenta: «Talvez o pior, contudo, seja a forma como a pornografia danifica o modelo que o homem tem do sobrenatural. A nossa visão natural neste mundo é o modelo para a visão sobrenatural do próximo. Quando danificamos este modelo, como é que vamos compreender essa realidade?» A nossa visão sobrenatural é danificada pelo mau uso da nossa visão natural.
A carta é endereçada a todas as pessoas da sua diocese, mas esperamos que pelo menos os seus fiéis católicos leiam este documento tão importante: novos, solteiros, casados, padres e religiosos: «Ninguém que viva na nossa cultura se pode separar do flagelo da pornografia. Todos são afectados em maior ou menor grau, mesmo aqueles que não participam directamente no seu uso».
Penso nas minhas filhas e pergunto-me quantas das amigas da sua escola católica vêm de uma família com um problema escondido de pornografia? Sinto que seria capaz de matar qualquer pessoa de qualquer idade que mostrasse às minhas filhas as imagens terríveis que estão ao alcance de alguns toques em qualquer iPhone hoje em dia.
O bispo Loverde analisa a fundo aquilo a que chama «Quatro Falsos Argumentos»; 1) Não há vítimas, 2) o uso moderado da pornografia pode ser terapêutico, 3) a pornografia é um auxílio na maturação, e 4) a oposição à pornografia tem por base o ódio ao corpo.
Entre as vítimas, aponta Loverde, está a dignidade dos «artistas» pornográficos que frequentemente são os «necessitados» e os «vulneráveis», incluindo os «pobres, abusados e marginalizados, até crianças», que são transformadas em meros objectos. O uso da pornografia desumaniza quem vê e corrói a família. Um pai é suposto proteger a família, mas através da pornografia permite a entrada daquilo a que Loverde chama «uma serpente» que rasteja por entre a sua mulher e filhos.
«Bought with a Price» é um documento de ensino formidável de um dos melhores bispos dos nossos tempos. Outros bispos tendem a estar mais no centro das atenções, enquanto Loverde faz os possíveis para manter a ortodoxia e a fé dos que lhe foram confiados.
O seu apelo eloquente merece ser lido e estudado por homens, sobretudo pelos seus filhos – os mesmos filhos que um dia virão bater-me à porta, à procura das minhas filhas.
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