sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Crianças e televisão: um estudo


Os primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento neurológico.

Durante este período, o cérebro de uma criança chega a triplicar o tamanho e as conexões neuronais, especialmente aquelas conexões usadas com maior frequência. As menos utilizadas, pelo contrário, tendem a ser «postas de lado».

Muitas crianças hoje gastam entre duas e cinco horas por dia na frente da televisão. A quantidade e a qualidade dos produtos televisivos vistos por estas crianças podem ter um impacto negativo sobre o desenvolvimento futuro delas?

A resposta é «sim».

Um recente estudo mostra que cada hora de televisão subtrai  à criança riqueza de vocabulário, penaliza as capacidades lógico-matemáticas e afecta negativamente os seus futuros relacionamentos sociais. A importância deste estudo reside no facto de que pela primeira vez foi cientificamente demonstrada a relação directa entre a televisão e as dificuldades psico-sociais. Foi a cereja no topo do bolo, depois dos rios de literatura produzida sobre o assunto.

O estudo seguiu 2 000 crianças desde o nascimento e mostrou que mesmo uma única hora de televisão mais do que a média está relacionada a um conjunto de distúrbios presentes na altura de frequentar o jardim de infância.


A American Academy of Pediatrics (Academia Americana de Pediatria) recomenda que as crianças não assistam a mais de 2 horas de televisão por dia após os dois anos de idade, e nem um único minuto antes daquela idade. Analisando o impacto negativo do tempo gasto em frente da televisão, chega-se à conclusão que as crianças que mais televisão viram provam ser carentes nos testes psicológicos, desenvolvem deficit de atenção e têm mais possibilidades de ser vítima de bulling por parte dos colegas.

Determinou-se também que os desenhos animados frenéticos influenciam negativamente o desenvolvimento de uma criança, por exemplo na capacidade de adiar a gratificação ou de exercer esforços contínuos.

Verificou-se que as crianças que costumam assistir aos desenhos animados mais frenéticos, encontram-se posteriormente atrasadas de forma significativa em algumas áreas específicas quando comparadas com colegas que não tinham o mesmo hábito ou que assistiam a programas mais calmos. Uma excessiva estimulação não é benéfica para uma criança, não «acelera» o seu crescimento.

É muito difícil hoje evitar que as crianças sejam expostas aos programas da televisão, por isso é fundamental o papel dos pais. Os filhos não podem ser simplesmente «arrumados» na frente da televisão, é importante que os pais fiquem ao lado deles, para compreender o tipo de conteúdos aos quais estão expostos, para explicar-lhe o sentido daquilo que estão a ver.

As crianças que passam mais tempo na frente da televisão também são mais propensas a tornar-se obesas, como demonstrado por um estudo realizado pelo Medical Research Institute (Instituto de Pesquisa Médica) da Nova Zelândia, onde foram examinadas mais de 200 000 crianças e jovens.

Alguns programas educacionais podem ter benefícios para as crianças depois dos três anos de idade, mas a exposição precoce é desencorajada por todos os especialistas em puericultura, sem excepção.

Alguns programas televisivos podem funcionar como complementos para a aprendizagem e o amadurecimento, mas só a partir duma determinada idade, em doses diárias limitadas e sem nunca substituir a experiência directa, a vida real.

Em conclusão: a melhor maneira que os pais têm para estimular as mentes dos seus filhos é brincar com eles, interagindo directamente, pois não há melhor professor do que a experiência social directa ao lado dos próprios pais.

As pessoas também deveriam lembrar-se de que as palavras importam muito menos do que as acções: os exemplos que fornecemos aos nossos filhos significam muito mais do que aquilo que lhes dizemos. E um casal sempre sentado no sofá a fixar a televisão não é o melhor dos exemplos.



Particularmente interessantes alguns artigos disponibilizados por Pediatrics, a revista oficial da Academia Americana de Pediatria (infelizmente só em idioma inglês):




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